quinta-feira, 12 de março de 2015

As vozes dentro de mim

     Isso tudo é uma fase, uma frase que falam e eu não ouço. Um dizer que me dizem mas não me esforço em entender. Então sussurram em meus ouvidos, falam baixinho, diminuem o tom, e vem de leve, sem pressa, no canto com encanto aos panos que me tecem. Eu aceito. Mesmo assim com uma preguiça bandida, eu vou entre os bandos, ao soprar dos ventos e ao dobrar do vento na esquina, eu hei também de dobrar. Vou longe sorrateiro, pequenino, faceiro, correndo entre as ruas e fugindo de todas as vozes que insistem em me falar. Elas ecoam em minha mente mas eu só corro, e faço questão de nem saber o que elas realmente queriam me dizer. 
     Eu me acho esperto mas nem tanto, prefiro evitar o problema a ter que entrar em pranto. Para falar comigo tem que ser do meu jeito, assim suave como o escorrer das lágrimas em meu rosto, puxando-me pelas mãos e acariciando a minha nuca. Eu só ouço a quem me quer bem, a quem fala o que diz pelo meu merecer e não querendo que eu mereça aquilo que me diz. Eu já sou cheio de mim, eu sou preenchido por palavras. Sou preenchido pelas minhas próprias palavras, sou preenchido pelo meu próprio mundo. 
     Então eu reconheço que é apenas uma fase. Mas que ela passe, que passe logo. Porque agora eu quero me preencher só de alegrias, quero me ver livre dessas palavras, quero colocá-las em meu caderno, escrevê-las à mão. Não mais guardá-las dentro de mim, e sufocá-las com meus ombros pesados. Quero pode estar mais apto a ouvir o mundo lá fora, das dores às rosas, do muro fechado ao portão que se abriu. Quero aprender a relevar muita espora, quero me cortar em muitos espinhos. 
     Eu preciso me esforçar, eu sei. Um esforço que me faça entender o mundo lá fora como ele é, não apenas preenchê-lo às ideias que perpetuam dentro de mim. Eu realmente preciso aprender a ouvir mais, falar mais, discutir mais, escrever mais. Não mais deixar esse mundo que vive aqui dentro morrer em mim. Seria uma má ideia para as minhas próprias ideias que costumam fugir. Acredito que toda essa fuga deveria acabar em meu caderno, não no meu esquecimento. Isso só me enfraquece e perece, tira-me as forças. 
     Eu sou cheio de mim, mas eu deveria ser cheio de vida para distribuir mais alegria a esse mundo que carece de um sonho vivo. Então que eu faça assim, não mais ter fases, apenas as frases. E todas essas frases ditas, que eu as perpetue como rosas plantadas em meu jardim.
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