segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Escancarei a minha porta

Já bateram muito em minha porta
Mas nunca deixei ninguém entrar
Eu apenas soube que era a hora
Quando eu te vi na rua a passar

Escancarei a porta, a sua espera
Mas parece que não adiantou
Você ficou plantada, austera
Gritei seu nome, você entrou

Passos rápidos, sem dar bom dia
Nem olhou em meus olhos, serena
Sentou-se ao sofá, sem muita pena
Convidou-me a sentar, meio tardia

Eu senti seu medo, logo no começo
Sua dificuldade em me olhar no olhos
Mas mesmo você com esse medo
Alcançou a ternura do meu coração

Surgiram suas primeiras palavras
E delas eu tentei criar minha condição
De puxá-la pelo braço até meu corpo
Para conseguir te ouvir com exatidão

Nasce, assim, o canto que se faz desejo
Atrelado em seu peito, a flor do cortejo
Tirada de meu bolso e dada com carinho
Para que eu possa encontrar seu caminho

Rapidamente entardeceu e se fez noite
Você olha o relógio e diz que tem que ir
Mas o importante é foi dado um passo
Para que eu te faça, cada dia mais, feliz 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Um reencontro

    Quer saber? Sim, você acorda em mim, irrita-se com a luz do sol em seu olhos, diz que ainda está cansada, manda que eu feche a minha porta, pois deseja voltar a dormir. Mas, querida, não dá. Minha porta é aberta para o mundo, um mundo que você conhece de outras vidas. Conhece a cada beco, brejo e birra. Então amanheça, pois o dia já amanheceu, e eu já estou acordado há um bom tempo a sua espera, até preparei o café. Eu já me arrumei, estou bem, bem com você aqui dentro. Chegou nosso momento, resplandeça, e reabite meu mundo, veja as flores lá fora, eu as plantei para você. Caminhe até a praia, tome um banho de mar, perca-se nesse horizonte azulado e depois venha me encontrar. Largue mão dessa preguiça, e nem adianta fazer bico, pois eu sei que você não é autoritária. E é disso que eu estou falando, falo de sua simplicidade, da sua ambição sadia, eu vejo isso em seus olhos e nesse seu sorriso tímido. Talvez você não queira ser incomodada, mas essa sua quietude incomoda minha inquietude. Ainda é cedo, concordo. Mas ficamos muito tempo afastados, temos muito o que conversar. Então, por onde vamos começar?

domingo, 5 de outubro de 2014

O homem de um terno só

     Em torno do tempo, ele ainda conta as horas. Parado na estação de trem, ele se sente estranho, meio perdido, não conhece ninguém da região. Afirmo isso porque conheço a todos, a todo momento e de todos os lugares. A aflição dele me trouxe uma ternura, por vezes passava a mão na testa, por vezes olhava para o chão e resmungava, mas tentando se passar despercebido. Resolvi ir cumprimentá-lo, não acho certo deixar as pessoas desacolhidas, quando no fundo tudo que elas precisam é de um sorriso. 
     Ele foi bem receptivo, logo tentou disfarçar a preocupação, abrindo um sorriso, mas a inquietude das pernas falavam por si só. Não me demorei, logo me adentrei à suas preocupações, e ele não pareceu ter nenhum problema em expor toda a situação. Era um problema muito simples, mas ele teve a destreza de complicar: um homem, seu único terno, e duas mulheres. Ele tinha uma entrevista de emprego logo mais tarde, em uma cidade ao lado, e tinha apenas um terno para vestir. Ele queria ir bem vestido, mesmo não precisando, pois, assim, a entrevista não exigia tanto compromisso com as vestes. 
     Até aqui, nada realmente parece ser um problema. Convenhamos: a entrevista já está marcada; ele já tem um terno, mesmo não precisando dele. O problema está em um erro que ele cometeu, ele tem duas mulheres e nunca soube lidar com isso. Em resumo, Sárime é a mais antiga, a que mais proporcionou experiência para este jovem, uma jovem humilde financeiramente, mas que buscava crescer como pessoa, mesmo sem saber por onde começar. No outro lado, Elvivi era a que ela mais se identificava, uma menina inteligente, da alta sociedade, rodeada por vários amigos, mas que sempre fugia de algo mais sério, tinha uma desculpa para tudo até das coisa que ela omitia. As duas se conheciam, sabiam que esse jovem já teve um relacionamento íntimo com ambas, mas também pensavam que só a amizade foi mantida, o que era uma mentira. 
     Esse jovem, Theobaldo, conseguiu levar essas duas por um bom tempo, mas a cada momento elas cobravam mais e mais da presença dele em suas vida. Assim que Theobaldo ficou sabendo da entrevista, comentou normalmente com elas, e disse que o único problema é que ele não se sentia confiante com o terno que ele tinha, ele achava meio velho, achava também que quando saia na rua os outros homens o olhava com piedade, daí que cada uma delas, em momentos diferentes, prontificaram-se de arrumar um novo terno. É de se entender que ambas queriam agradar o parceiro. Theobaldo ficou feliz, agora passaria a ter mais dois ternos, e novos. Poderia sair pela rua sem se preocupar com o que os outros iriam dizer. 
     Tudo parecia estar perfeito, e deveria ser assim. Um dia antes da entrevista, Sárime foi a casa de Theobaldo pessoalmente entregar o terno. Ela, por ser mais humilde, que costurou. Ela não tinha dinheiro, mas tinha a capacidade para fazer. Theobaldo, logicamente, ficou agradecido, porém internamente sentiu um certo preconceito. Theobaldo achava que por não ser feito por um alfaiate reconhecido da cidade, o terno teria algum problema, e não ficaria tão apresentável. Mas como ele ganharia outro terno de Elvivi, ele nem se preocupou. Porém, cai entre nós, Theobaldo me mostrou o terno de Sárime, e eu achei impecável, o problema estava realmente na cabeça dele. 
     Enfim, Sárime, antes de sair, falou que iria à estacão antes de Theobaldo embarcar, e que ela gostaria de ir até a cidade da entrevista para fazer companhia, já que ela tinha algumas coisas para resolver por lá. Theobaldo me disse que isso é o que ele odeia nela, uma pessoa controladora, disse que ela não tinha nada para resolver na outra cidade, apenas inventou isso para fiscalizar o que ele anda fazendo, mas ele na hora não disse nada, com medo de magoá-la, um "tudo bem" foi o máximo que pôde expressar. 
     Algumas horas depois, bate a porta de Theobaldo, um garoto avisando que dona Elvivi pediu que ele passasse na casa dela antes que ele partisse, para pegar o terno que ela mandara fazer, pois Elvivi já tinha ido mais cedo ver umas amigas, e por coincidência era a mesma cidade da entrevista, então ela iria depois o esperar na estação. 
     Mas, veja só que situação, eu estou, agora, exatamente frente a frente, na estação da cidade a qual ele terá a entrevista, ele acabou de chegar, apenas parou porque Sárime precisou ir rapidamente ao banheiro, e Elvivi está prestes a chegar. Agora tudo fez mais sentido. Theobaldo, então, diz - aqui estou eu, 10 minutos para minha entrevista, três ternos na mão, e dois problemas que estão prestes a acontecer - e nada parece melhor, vendo Theobaldo aqui ao meu lado, não consigo entender como ele conseguiu ser tão passivo a todo esse tempo. Quando eu vejo que o tempo está se esgotando, digo as últimas palavras antes de tomar meu rumo:
- Theobaldo, você é um homem de um terno só. Você momento nenhuma precisou de um novo terno. Você apenas acha que precisa. Mas seu maior erro, é não ter controle das situações que lhe rodeiam. Você veio para cá para essa entrevista, e você precisa muito disso. Você deveria estar tranquilo, sem nenhum problema, para que você possa ter um maior lucidez e discernimento, mas você se sabota a cada momento, por não saber lidar com seu emocional e não ter a atitude de homem. Vista seu velho terno, e vá sozinho para a entrevista, que é o que realmente importa, você não precisa de um terno novo e nem da companhia de alguma delas para que os outros o vejam como homem e o reconheçam. Reconheça você como ser integrante de um todo, isso será o suficiente. Se alguma delas se entristecer porque você as deixou de lado nesse momento, não tenha medo. Porque quem é de verdade, permanece de verdade em nossas vidas, independente de nossas decisões. E quando chegar a noite, e você se sentir desolado, converse comigo, e apenas me peça uma coisa "Deus, sare-me de tudo que eu vivi".

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Mais uma vez você

Você toma meu tempo
Me faz sorrir fácil
Me entorna o embaraço
Apenas, assim, do seu jeito
A sobrepor meu desejo
E diferir meu pensamento
Ao Interromper meu momento
Eu fantasio o que quero ter
Pois eu te quero aqui ao lado
Em um abraço apertado
Daqueles que eu sinta
Que você não vai embora
E eu não precise das horas
Para saber se você tem que ir


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