segunda-feira, 25 de maio de 2015

Ensaio da ansiedade, prelúdio

     Por que esse homem é ansioso? Ele vive sofrendo amontoado em seus próprios pensamentos, afogado nas possibilidades que há de surgir no amanhã, ou no ensejo dos débitos pagos, um amanhecer que irá transgredir a dor em busca do afago. Nessa prosopopeia da vida, onde o homem vive como cachorro e se arrisca como gato, sem que lhe reste vida alguma, ele há de se encontrar, de se projetar aos ventos sublimes que o carrega dentre terras mundanas. 
     Mas de antemão a esse fato, o que lhe resta para preencher esse inevitável vazio é a doçura de se iludir. Não se faz pela ignorância do ato, mas pela tolerância do marasmo. Ele até que tenta, até que compreende, mas daí é que se prende, repreende-se e não aprende. Aprender vem da trajetória contínua de estímulos ou da trajetória brusca do inesperado e traumático, a ansiedade repele qualquer que seja o esforço de permanecer nesse caminho. O aprendizado se torna árduo, e mesmo com a compreensão, assimilar o que se está sentindo apenas o faz sentir falta do que lhe falta. Talvez seja a falta de amor e seus derivados, mas talvez seja o excesso de amor guardado, que não houve maneira de ser distribuído. 
    Talvez dentro desse homem haja uma criança que se desprendeu de seu berço, e não teve em seu espelho o reflexo da compaixão. Então ao se encarregar do berço no qual foi criado, mover-se-á entre os marés da ingratidão, contorcendo-se apenas pelas verdades estampadas em seu rosto. Ele não mente, pois se sim, ele viverá uma mentira de verdade. Então ao se deparar com sua situação, engasga-se. Um gole d'água. Da água ao seco em sua vida veio a enxurrada, lavou tudo, escorreu, secou ao vento. Da água em seu corpo, deu-se tempo. Do seu engasgue, restou-lhe a  contemplação. E não mais navega, já não habita o mar da exatidão.
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