segunda-feira, 26 de março de 2018

Tudo tem seu tempo

     Edmund, não sei bem com quem falar. Poucas pessoas sabem da minha história, e você é o único com quem me sinto confortável.
     Então, não sei bem de onde vem esse tormento, mas estou me sentindo preso a duas escolhas, ambas de aparência definitiva. Nos primeiros meses do meu término com Elisabeth, eu me senti bem, e não teria como ser diferente. Foi um alívio. Mas, desde o fim do ano passado, eu me pego pensando nela. A intensidade aumentou este ano. Obviamente, eu nunca cogitei vê-la. No atual momento da minha vida, isso não era uma opção. Eu tinha tudo planejado: resolveria minhas pendências, alcançaria meus objetivos, e então a procuraria. Mas acontece que ela me procurou primeiro.
     Quando eu fui embora, fiz questão de não deixar rastros, consegui bloquear qualquer tipo de contato que poderíamos ter. Mas acontece que, de alguma forma, ela achou meu endereço. Sábado de manhã, eu acordo com uma carta de Elisabeth. Nesta, ela pede desculpas por tudo que aconteceu, disse que, à época do nosso relacionamento, ela passava por um momento difícil e de grande estresse. Enfim, tudo que é de praxe. Acreditar ou não em tudo que ela disse é mais uma questão de fé.
     Ontem, eu a vi, tudo ocorreu bem. Mas, desde ontem, antes mesmo de vê-la, eu senti que dei um passo de difícil retorno: eu não devia ter respondido a sua carta. Algo me prende, é um certo medo. Ou Deus está me testando, ou ele a quer na minha vida.
     Tudo se resume em escolhas. Eu já a expliquei a minha situação, passo por um momento difícil no qual eu não poderia me comprometer com nada, não poderia arriscar esse meu projeto de vida em curso. Ela diz que entende e que não quer atrapalhar. Eu digo que não é o momento certo, ela diz que não quer ficar longe de mim e quer estar ao meu lado nas minhas conquistas. Mais uma vez, acreditar ou não é mais uma questão de fé.
     Eu sei que parece não fazer sentido. Racionalmente, nada faz. Eu me aconselharia do mesmo jeito que o senso comum. Eu não sou idiota, eu sei de tudo que aconteceu. Não é tão fácil ela aparecer do nada, achar que mudou e que tudo vai ser diferente. Pessoas erram, eu errei, ela errou. Erros distintos em sua intensidade e natureza. Cada um lidou com a situação à medida de sua maturidade. E esse é outro problema. Nada do que aconteceu parece me afetar. A minha vontade de fazer tudo dar certo é tão grande que me faz ignorar o passado.
     Mas nada na vida é tão simples, né? Não existe essa história de seguir o coração. Às vezes, o sentimentos nos manipulam. É preciso ter responsabilidade e pensar à frente. Sem contar que é claro que eu tenho medo de reviver tudo aquilo novamente. Então como ignorar uma pessoa que, desde o começo, lhe trouxe tantas certezas e, posteriormente, tantas dúvidas? Consegue entender? É difícil por em palavras. Sentimentos são tão difíceis de se lidar, imagine descrever.
     É como se eu não soubesse o que é certo ou errado. A pessoa que você tanto gosta está ali pedindo para fazer parte da sua vida. Um ano se passou, o interesse dela ainda subsiste. Parte de mim quer sumir para evitar todo esse problema. A outra parte é a que ainda pensa nela em momentos aleatórios. É um dilema. Se digo não, talvez seja o último não. Ela seguirá a vida, conhecerá outras pessoas, e então será tarde demais. Se eu digo sim, é um caminho desconhecido, em que tudo pode acontecer. É isso.

Edmund, duas horas depois, eu voltei aqui para finalizar esta carta. Eu me decidi e retornei a ela: eu disse não. Deixarei abaixo o verso da bíblia que me auxiliou. Em deus, sempre haverá respostas.

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz."


Eclesiastes 3:1-8
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