segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sétimo lampejo

     Já não basta o aperto na consciência ser a satisfação de outrem, tem que ser um fardo o afago em meu peito, tem que descer cortando, fazer ouvir os gritos que vêm de dentro e correm pela sala. Não adianta o peso em minhas costas, não é o suficiente, há de escorrer em meus olhos a chuva que cai lá fora, chuva que asseia minha alma álgida de áurea clara e esclarecedora. Faz parte de mim, nessa minha busca pelo escorregadio, obstáculos com chão vazio e um vazio no olhar. Está intrínseco em meu anseio por um colidir assolador, que destrói o que não se encontra consistente em mim. Sempre pareço querer mais, não como uma porta escancarada para a areia da praia, mas como um imperceptível e involuntário piscar de olhos. Sempre apto e receptivo para as adversidades, ainda não me encontro reluzente em determinadas situações, é como um cavalgar onde você pode cair a qualquer hora, e essa queda tem como consequência uma variante que vai da morte ao sorriso. Você não tem controle, mas as vivências farão com que você consiga mais sorrisos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Ciclo: segundo passo

     Estou escrevendo em linhas tortas, só para bagunçar o que já está bagunçado, ainda mais bagunçado que meu quarto e mais confuso que uma sala cheia de portas. Mas, por incrível que pareça, não estou angustiado, estou feliz assim do meu jeito, apenas cansado de dar tantas voltas para no fim escrever um mesmo texto.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Antes que anoiteça

Esse silêncio me incomoda
Nem me olha e vai embora
Vira as costas e desaparece
E eu aqui fazendo uma prece
Para que eu ouça sua voz
Em nossos momentos a sós
Ao manto que cobre e conforta
Uma vez sequer, não importa
Mas que seja no amanhecer
Pois já amanhece aqui dentro
Então fale antes que seja tarde
Ou me abrace antes que anoiteça
Porque por mais que não pareça
Meu amor se desvai ao anoitecer

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O encontro

     O brilho da noite já cortava a minha janela quando bateram em minha porta. Era meu pai. Fazia tempo que eu não o via, fiquei um tanto surpreso. Ele notou meu estado de uma pessoa perdida entre as palavras, cujo resultado é o silêncio. Então ele me deu um leve abraço, pediu licença, avisou-me que estava entrando, sempre com um sorriso confortante no rosto. Apenas consegui dizer - claro, claro, entre! Oras, essa casa, até onde eu saiba, ainda é sua - confesso que não entendi o abraço rápido e o ar de pressa que eu sentia, havia tanto tempo que não nos víamos, imagino que nessas situações um abraço apertado é o antídoto da saudade. Mas, enfim, o que achava impossível aconteceu, eu não precisava tentar entender mais nada. Era hora de ouvir e viver o momento.
- Estou com fome, há anos que não como uma comida de de verdade - disse meu pai.
- Deve ter algo na geladeira, mas se o senhor... - e fui cortado - huuum, esse doce de abacaxi está com uma cara ótima.
- Comprei um ótimo whisky em minha última viagem, ainda está lacrado, mas essa parece uma boa hora para abri-la - ele dá uma gargalhada suave e rápida, tudo que eu queria era agradá-lo, então continuei - como sei que o senhor adora um Glenrothes 1985, irei preparar a primeira dose.
- Não precisa.
- Como não? Faço questão, por favor - eu insisti, achando que ele não queria ser um incomodo.
- Não bebo mais. Nessa nova etapa de minha vida, eu me desvinculei de alguns vícios, enquanto outros - diz ele olhando para o pode de doce de abacaxi.
     Eu gostei de saber que ele não bebia mais, pois esse foi o motivo dele ter saído de casa. Então resolvi  logo mudar de assunto:
- Mas, diga-me, como você está? Por onde andas?
- Hoje, melhor impossível. Mas já me encontrei em péssimas condições, perdido, desolado, depois de minha partida. Consequência do meu vício, claro. E por onde eu ando? Bem, atualmente eu viajo muito, uma maneira que eu encontrei de me ajudar foi ajudar os outros, então vivo por aí, por onde precisam de mim; mas se queres saber onde eu resido, a resposta é: aqui perto, tão perto quanto seu pensamento pode permitir.
- Mas porque só veio agora me visitar, já são 15 anos - sinceramente, eu chorei. Já estava inundando por dentro, meu transbordar foi consequência, não aguentei.
- Quem disse que te abandonei por tanto tempo? Não houve um dia sequer, desde que meu coração me permitiu, que eu não estivesse ao seu lado.
     Abaixei minha cabeça, apoiando-a em minha mão, lágrimas ainda escorriam pelo rosto. Mantive o silêncio, ainda tentava digerir o que ele acabara de me dizer.
- Eu soube que você teve seus altos e baixos após minha ida. Tentei ajudar de acordo com minhas possibilidades. Sei também que você anda meio perdido entre as escolhas a serem feitas em sua vida. Ahh, as dúvidas, não saber bem o que fazer. Terrível, não?
- Eu estou bem, pode não parecer, mas estou.  Hum, altos e baixos todos nós temos, isso faz parte de meu passado. Pelo jeito, do seu também. O que me deixa curioso é como pode você saber sobre isso, algo tão íntimo.
- Tenho amigos que lhe conhecem e se preocupam com você. Quanto a isso, é tudo o que posso dizer. Meu tempo é curto. Vim aqui para que saibas que estou bem e que você não está sozinho. Por mais que você pense que viva na solidão, estás enganado. Todas as noites que olhas o teto de seu quanto, deitado na cama, e sente-se sozinho, saibas que eu estou ao seu lado.
- Eu acredito que sim, meu pai. Mas minha vida anda conturbada, são tantas esquinas e estradas, tantas informações, que me deixam esgotado, e me afastam do mundo. Mesmo sabendo que tudo o que preciso fazer é dar um passo a frente e seguir com perseverança.
- Eu sei, meu filho. Acredite! Tudo irá se encaixar, conforme a vontade de Deus - tocou em meus ombros, acolheu-me em seus braços e preparou-se para a despedida - Agora eu tenho que ir. Mas antes eu quero que saibas que há paixões, que só são paixões, porque vivem em nossos pensamentos, mas um dia você saberá discernir o real valor de tudo que acontece em sua vida.
Então em um último suspiro, ele se foi. E com o sol invadindo as frestas de minha janela, eu acordei.

Creative Commons License
Klauss Diary by Gabriel Barbosa is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivs 3.0 Unported License.