segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Sétimo lampejo

     Já não basta o aperto na consciência ser a satisfação de outrem, tem que ser um fardo o afago em meu peito, tem que descer cortando, fazer ouvir os gritos que vêm de dentro e correm pela sala. Não adianta o peso em minhas costas, não é o suficiente, há de escorrer em meus olhos a chuva que cai lá fora, chuva que asseia minha alma álgida de áurea clara e esclarecedora. Faz parte de mim, nessa minha busca pelo escorregadio, obstáculos com chão vazio e um vazio no olhar. Está intrínseco em meu anseio por um colidir assolador, que destrói o que não se encontra consistente em mim. Sempre pareço querer mais, não como uma porta escancarada para a areia da praia, mas como um imperceptível e involuntário piscar de olhos. Sempre apto e receptivo para as adversidades, ainda não me encontro reluzente em determinadas situações, é como um cavalgar onde você pode cair a qualquer hora, e essa queda tem como consequência uma variante que vai da morte ao sorriso. Você não tem controle, mas as vivências farão com que você consiga mais sorrisos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Ciclo: segundo passo

     Estou escrevendo em linhas tortas, só para bagunçar o que já está bagunçado, ainda mais bagunçado que meu quarto e mais confuso que uma sala cheia de portas. Mas, por incrível que pareça, não estou angustiado, estou feliz assim do meu jeito, apenas cansado de dar tantas voltas para no fim escrever um mesmo texto.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Antes que anoiteça

Esse silêncio me incomoda
Nem me olha e vai embora
Vira as costas e desaparece
E eu aqui fazendo uma prece
Para que eu ouça sua voz
Em nossos momentos a sós
Ao manto que cobre e conforta
Uma vez sequer, não importa
Mas que seja no amanhecer
Pois já amanhece aqui dentro
Então fale antes que seja tarde
Ou me abrace antes que anoiteça
Porque por mais que não pareça
Meu amor se desvai ao anoitecer

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O encontro

     O brilho da noite já cortava a minha janela quando bateram em minha porta. Era meu pai. Fazia tempo que eu não o via, fiquei um tanto surpreso. Ele notou meu estado de uma pessoa perdida entre as palavras, cujo resultado é o silêncio. Então ele me deu um leve abraço, pediu licença, avisou-me que estava entrando, sempre com um sorriso confortante no rosto. Apenas consegui dizer - claro, claro, entre! Oras, essa casa, até onde eu saiba, ainda é sua - confesso que não entendi o abraço rápido e o ar de pressa que eu sentia, havia tanto tempo que não nos víamos, imagino que nessas situações um abraço apertado é o antídoto da saudade. Mas, enfim, o que achava impossível aconteceu, eu não precisava tentar entender mais nada. Era hora de ouvir e viver o momento.
- Estou com fome, há anos que não como uma comida de de verdade - disse meu pai.
- Deve ter algo na geladeira, mas se o senhor... - e fui cortado - huuum, esse doce de abacaxi está com uma cara ótima.
- Comprei um ótimo whisky em minha última viagem, ainda está lacrado, mas essa parece uma boa hora para abri-la - ele dá uma gargalhada suave e rápida, tudo que eu queria era agradá-lo, então continuei - como sei que o senhor adora um Glenrothes 1985, irei preparar a primeira dose.
- Não precisa.
- Como não? Faço questão, por favor - eu insisti, achando que ele não queria ser um incomodo.
- Não bebo mais. Nessa nova etapa de minha vida, eu me desvinculei de alguns vícios, enquanto outros - diz ele olhando para o pode de doce de abacaxi.
     Eu gostei de saber que ele não bebia mais, pois esse foi o motivo dele ter saído de casa. Então resolvi  logo mudar de assunto:
- Mas, diga-me, como você está? Por onde andas?
- Hoje, melhor impossível. Mas já me encontrei em péssimas condições, perdido, desolado, depois de minha partida. Consequência do meu vício, claro. E por onde eu ando? Bem, atualmente eu viajo muito, uma maneira que eu encontrei de me ajudar foi ajudar os outros, então vivo por aí, por onde precisam de mim; mas se queres saber onde eu resido, a resposta é: aqui perto, tão perto quanto seu pensamento pode permitir.
- Mas porque só veio agora me visitar, já são 15 anos - sinceramente, eu chorei. Já estava inundando por dentro, meu transbordar foi consequência, não aguentei.
- Quem disse que te abandonei por tanto tempo? Não houve um dia sequer, desde que meu coração me permitiu, que eu não estivesse ao seu lado.
     Abaixei minha cabeça, apoiando-a em minha mão, lágrimas ainda escorriam pelo rosto. Mantive o silêncio, ainda tentava digerir o que ele acabara de me dizer.
- Eu soube que você teve seus altos e baixos após minha ida. Tentei ajudar de acordo com minhas possibilidades. Sei também que você anda meio perdido entre as escolhas a serem feitas em sua vida. Ahh, as dúvidas, não saber bem o que fazer. Terrível, não?
- Eu estou bem, pode não parecer, mas estou.  Hum, altos e baixos todos nós temos, isso faz parte de meu passado. Pelo jeito, do seu também. O que me deixa curioso é como pode você saber sobre isso, algo tão íntimo.
- Tenho amigos que lhe conhecem e se preocupam com você. Quanto a isso, é tudo o que posso dizer. Meu tempo é curto. Vim aqui para que saibas que estou bem e que você não está sozinho. Por mais que você pense que viva na solidão, estás enganado. Todas as noites que olhas o teto de seu quanto, deitado na cama, e sente-se sozinho, saibas que eu estou ao seu lado.
- Eu acredito que sim, meu pai. Mas minha vida anda conturbada, são tantas esquinas e estradas, tantas informações, que me deixam esgotado, e me afastam do mundo. Mesmo sabendo que tudo o que preciso fazer é dar um passo a frente e seguir com perseverança.
- Eu sei, meu filho. Acredite! Tudo irá se encaixar, conforme a vontade de Deus - tocou em meus ombros, acolheu-me em seus braços e preparou-se para a despedida - Agora eu tenho que ir. Mas antes eu quero que saibas que há paixões, que só são paixões, porque vivem em nossos pensamentos, mas um dia você saberá discernir o real valor de tudo que acontece em sua vida.
Então em um último suspiro, ele se foi. E com o sol invadindo as frestas de minha janela, eu acordei.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Rascunho

     Eu não escrevo para os outros, não escrevo com a intenção de atingir uma multidão. Eu sou seletivo em minha vida, em minhas escolhas, em meus amigos, não seria diferente com minha escrita. Meu alvo sou eu mesmo na maioria dos casos. Eu espero de alguma maneira entender as ideias e sentimentos tumultuados aqui dentro. Mas, confesso, às vezes existe um você, mesmo que você não saiba que eu escreva. E em último caso há um vocês, pois se cheguei a vocês é porque o recado tinha que ser dado.

Está tudo bem

Está tudo bem
Eu atendi o telefonema
Disseram-me tudo
E tudo significou nada

Está tudo bem
Eu já esperava por isso
Já esperei  por você
Agora espero por nada

Está tudo bem
Não me abalo fácil
Já me abalei bastante
Mas hoje, eu sinto nada

Talvez as minhas palavras
Mascarem a verdade
Talvez eu não queira te preocupar
Mas talvez nada seja mentira
Por que no fundo
Eu só quero te ouvir falar:
Está tudo bem.

sábado, 26 de outubro de 2013

Em meu canto

São dias calmos em meu arvoredo
Um sol padecente, mas cintilante
Sombras acolhedoras, vento frio
Logo mais, um bom vinho
E um livro na mão
Sentado no chão
Aproveitando o momento
Como se um momento melhor
Não pudesse existir

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sem querer

Já era tarde quando tudo se foi
Meus livros, minhas cartas
Nada restou, apenas papeis vazios
Assim como meu olhar
Vago e distante
Buscando algum semblante
Nas sombras turvas dessa noite

Agora amanhece ligeiramente
Cidade ainda adormecida
Ouço quase nada
Apenas assovios passageiros
Do vento frio dobrando as esquinas

Os primeiros passos aparecem
Primeiras gargalhadas
E um primeiro sorriso
Que me faz sorrir
Assim mesmo, sem querer

Ela é bela, assim mesmo, sem querer
De uma sutileza ímpar, mesmo sem querer
Ousada, talvez por querer
E me conquista a cada segundo
Assim mesmo, sem querer

Mas não sei o que acontecerá
Apenas sei que tenho folhas soltas
Livres, desimpedidas
As quais pretendo enriquecer
Com minhas palavras
E uma nova história
Que nasceu, assim, sem querer.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Caderno de mão

Eu ainda era menino
Com meu caderno de mão
Presente de meu irmão
Que hoje não é vivo
Mas vive em mim
Sempre ao meu lado
A cada passo
Respirando outros ares
Sofrendo os males
Em algum lugar
Um lugar qualquer
Conhecido como lar
Aqui, bem pertinho
Quase meu vizinho
Lendo minhas cartas
Escritas em pensamentos
Sobre meus momentos
E as coisas que já vivi
Tudo em meu caderno de mão
Guardado com gratidão
Enterrado em meu jardim

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O paciente

A arte da paciência
Em essência
Não se sabe o que faz
Um tanto incapaz
Rompendo sem freio
A ânsia em cheio
Acolhida no peito
Desfeito
Então me desfaço
No compasso
Eu conto o meu tempo
Me perco nas horas
Jogadas ao vento
Jogadas lá fora
Em seus ombros
Seus braços
Dê-me um abraço
Que o tempo passa
E eu me passo
Bem paciente.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O carteiro

     Sou um carteiro um tanto feliz, caminhando entre ruas repletas de pessoas simples, gramado reluzente e verde, pichações nas paredes, vozes que não reconheço e nem entendo, com uma trilha sonora regida pelos pássaros e som dos carros, apenas seguindo uma trilha com o talento de esculpir, mesmo que de forma árdua, nossa maneira de viver e sentir, trilha tal que nos mostra que é necessário viver, mas que para viver, precisamos sobreviver, definir, ceder, provir, prever, saber, sentir, cair, rever, e então reerguer. Nem sempre nossos sonhos estão sendo sonhados com a mesma frequência e intensidade, mas continuam ali, mesmo que esquecidos por alguns segundos, minutos, eles não deixam de existir. Pois, oras, eu sou um carteiro feliz. Eu vou até as pessoas, entrego as boas novas, que às vezes nem são tão boas, mas necessárias. Conheço essas vielas curvas e cinzentas como a palma de minha mão. Posso parecer perdido, mas estou apenas perdido em meus pensamentos, eles voam longe, voam tanto quanto meu desejo de voar, pensamentos esses que refletem em meus olhos, mudam meu semblante, tornando-me mais vivo, vivo entre as vielas, apesar de não parecer. Sou carteiro, ando por aí, estou em todos os lugares mesmo que não pareça e ninguém perceba. As pessoas só me vêem ou percebem que passei quando faço uma entrega. Isso é meio frustrante, confesso, mas não há de ser sempre assim, meu caminho eu hei de mudar, não será mais o caminho das cartas a serem entregues, será o meu caminho, o caminho de uma criança que irá jogar bola, de uma pai que irá passear com seu filho, de um marido que entregará cartas apenas para uma pessoa.

Às vezes

Às vezes, 
não há nada a ser dito
Nada a ser revisto
Já que não há vontade
Se tem, não se sabe
Pois já não mais escrevo
E se escrevo, não consigo ler
Então paro de escrever
Na esperança de sentir
O que há dentro de mim
E que às vezes não sinto
Apenas às vezes.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

À meia-noite

     Uma jovem lilás no horizonte, a flor bela, prisioneira vestindo uma cruz de cor amarela, ofegante, debruçada sobre o delírio do cais, de uma tristeza sem fim aos gritos terminais, mas consente e sente-se doente, as mágoas profundas presentes, ela corre, para, pensa e pula. Então acorda, grita e logo sussurra:
- Mais bela, sagaz e felina, no partir da manhã à uma tarde em neblina, tudo foi apenas um sonho ou um triste pesadelo?

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Quando tudo começar

Olhe em meus olhos
Respire, jogue tudo fora
Não que agora seja hora
Mas é hora de se libertar
De tudo que está aí guardado
A sete chaves, lacrado
Em seu sorrir decente
De uma paixão recente
Que me espera acordar
Então me acordo cansado
De sempre olhar ao lado
E não conseguir te enxergar
Você, distante e passageira
Dos meus sonhos, a primeira
Que seja mais aparente
Apareça assim de repente
Com um susto certeiro
Expurgando meu devaneio
Acolhendo nossos laços
Recordando os velhos passos
Escrevendo um novo texto
Recitando uma poesia
Ao seu lado, quem diria?
Pois há quem diga que será assim.

Apenas observe

     Há um determinado momento em nossas vidas, aparentemente estreito, rodeado entre luzes e sombras, poucas cores, que nossos pensamentos fogem e se escondem em profundezas, não de conotação obscura, mas sim de distante e isolada, intangíveis, inimagináveis, aprisionadas em uma vibração densa, habitada pela sensação de fracasso, mas não o fracasso atingido pelas decepções alheias, e sim um fracasso de observar os outros fracassarem por tentar, e apenas observar, nada mais.

domingo, 18 de agosto de 2013

Amanhã, quem sabe?

Até hoje eu espero
Sentado na varanda
Ao pôr-do-sol
Meus dias voltarem ao normal
Em algum dia, que tal?
Eu hei de arrumar as malas
E não mais esperar
Correr atrás, reencontrar
Escalar montanhas
Fazer poses estranhas
Acender fogueiras
Montar barracas
Me aventurar, sair por aí
Algum dia eu sei que sim
Mas enquanto isso
Assim como eu dizia
Permaneço sentado
No meu canto calado
Admirando o retrato
De tudo aquilo que quero
E não posso ter.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

#Diário de Klauss - Meu primeiro diário (III)

     Talvez seja por esse motivo que a Triangular nunca tenha tido nenhuma ambição em expandir seu território. Todas expedições, em sua grande maioria, são com barcos aéreos, com rumo às ilhas flutuantes, porque são lugares quase que isentos de criaturas selvagens, e pra que não tenha dúvidas sobre a capacidade intelectual das tais criaturas diante da categorização de "selvagens", eu generalizo como "criaturas cruéis", no mais, pode ser ignorância nossa, nos afastamos do mundo a fora. Cristalizamo-nos em nossas barreiras, e resolvemos, visando nosso bem, isolar o mundo ou nos isolar, depende do ponto de vista. Pois nós sabemos de civilizações, aos arredores, que não se desenvolveram tão bem, que são necessitadas de um afago fraterno, mas nada de nós partirá. Não por segregação nossa, mas há um contexto histórico que nos afasta. Vale-se lembrar que a Triangular é formada por três sociedades distintas, pensamentos distintos, mas que almejam o mesmo destino. E quando temos pessoas diferentes, partindo de uma origem ao mesmo destino, os caminhos serão diferentes. Agora imagine se eles decidirem caminhar juntos. Isso será um problema. Enfim, a sociedade. Pensamentos que afloram a todo momento, em busca do bem comum, retrato agora o conflito interno de nossos governantes. Eu estive lá, mesmo que por pouco tempo, sei do que estou dizendo. Acredito muito na pureza de pensamento da grande maioria que forma a cúpula central. Mas envolta desses membros, por meio da afinidade, acredita-se ter outras mentes, outras vontades. Imaginar essa teia tecida, entre nossos governantes a nossos irmãos em comum, é trabalho árduo, diria até que tão pouco compensador. Tudo que eu espero, e que com fé eu vejo, são sempre decisões firmes e concretas, pensadas para o bem de todos. Por mais tantos, ao logo dos sete mil anos conhecidos de nossa história, ainda não chegamos a plenitude, então quem somos nós para levar a plenitude a nossos irmãos perturbados? Tudo que nos resta, é fazer algumas expedições, de caráter diverso, para aos poucos moldar nossa integridade ao lado de nossos irmãos, ainda então, divergentes a nossos caminhos. Em relação as expedições terrestres, eu tenho capacidade de dizer que desde meu ingresso no quadro militar até os dias em que escrevo esse diário, foram poucas tentativas, mas com sucesso, ouso a dizer. Porém, muitas mortes também. O mundo fora das fronteiras é um mundo cruel, indiferente, impiedoso. Além de ser desconhecido, por motivos evidentes, também é muito grande, foge de nossos controles. Mas por um lado isso trouxe algo de positivo: o medo nos fez reconhecer de que não precisamos daquilo que está fora de nossos alcances. Sobrevivemos tão bem com o que temos, o que a terra nos dá, é o bastante. Claro que muitos problemas arquiteturais, de engenharias,  de logísticas e científicos precisaram ser resolvidos para que conseguíssemos sobreviver e viver com o que muitos consideram pouco, e hoje entendemos que é o suficiente e se faz eficiente. Mas esse discernimento, aprendizado, conhecimento e desejo de ser um bom habitante e conterrâneo (até mesmo para aqueles que nos consideram inimigos) não surgiu de repente, houve muitos estudos, os quais nunca cessaram, e acredito que nunca cessarão. Pois buscar melhorias sempre será de bom grado, mas só a partir do momento em que essa busca seja o melhor para nós. Eu já nasci nesse mundo com muitas idéias difundidas, isso que falo já tem seus séculos. Temos grandes historiadores que descrevem cada passo no invento de maquinas, nos estudos da alquimia e suas descobertas, na capacidade do poder da mente (telecinésia por exemplo), as faculdades intelectuais, físicas e espirituais, a arte do ocultismo, entre tantas outras. Há um arsenal, só que de livros, que ditam o comportamento e procedimentos a serem tomados pela sociedade, e nosso governantes são ortodoxos, respeitam às escrituras. Mas não obrigam ninguém a respeitá-las. É muito simples de se entender o porquê: se não segues ou não consegues seguir as regras de nossa sociedade, dela não precisarás (entenda como "não poderás") fazer parte, pois não é justo usufruir de tais ganhos coletivos enquanto te colocas como um ser individual. Mas é sempre bom entender que um ser ortodoxo está sempre aberto a mudanças, e que o respeito às escrituras pode ser o respeito ao que ele próprio escreveu, pois somos um sociedade bem flexível, sempre buscando o bem de cada um, pois só assim alcança-se o bem coletivo, e o que eu tinha dito anteriormente "os estudos nunca cessarão" aplica-se bem nesse contexto, a nossa forma de pensar e agir estão em constantes mudanças, nossas escrituras também. Aos que negam seguir as regras, são retirados da sociedade, mas se houver qualquer indício de resistência ou de ameaça, são submetidos ao isolamento.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Um fim de tarde qualquer

Ela dorme em meus braços
Enquanto caminho pela areia
Na praia, fim de tarde
E um cansaço aparente
Ela acorda dormente
Com um belo sorriso solto

Agora nós andamos lado a lado
Seguindo um mesmo caminho
Não mais pela praia
E sim pela avenida
Pois já anoitece, menina
E o que queres para comer?

De comida servida
À uma sensação de fastio
Sentamo-nos nas cadeiras
Conversamos um pouco
Sobre o dia que se partiu
E aquele que virá

Mas a noite já se passa
E não há nada que me faça
Perecer do meu sonhar
Ainda mais com essa chuva forte
Que me deseja sorte
Para quando eu for acordar.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

#Diário de Klauss - Meu primeiro diário (II)

     Eu me lembro que morávamos em um vilarejo de pilhas encadeadas, que são vários prédios ligados um ao lado do outro, em formato de U. Com uma grande varanda que ligava todas as casas, como era comum em vilarejos mais humildes. A visão dessa varanda era contemplada com uma praça, um grande espaço vazio em areia onde crianças corriam, uma fonte até que grande e tendas que formavam uma pequena feira. Tudo muito simples, construído para os trabalhadores das redondezas do rio Brosch pelo Imperador Tzu. Brosch também era o nome do vilarejo, ficava entre Notakker e Ratignar Hauss, ou seja, em uma zona neutra. Não pertencia à Triangular, mas recebíamos proteção e alguns serviços por força de trabalho em troca. Brosch era grande, tinha muitos campos de colheitas, principalmente de arroz, algumas mineradoras, criação de animais, extração de essências e ervas, e um pequeno centro de treinamento militar formado pelos próprios camponeses hábeis de uma divisão ordinária. Também nos foi fornecido o centro de cura e espiritualidade, a Sentinela e o Caldeirão que é um grande restaurante. Isso tudo majoritariamente fornecido pelo Império de Notakker, que também era o que mais se aproveitava dos recursos. Devido o grande crescimento de Brosch, foi formado um time de inspetores, constituído por membros do comitê social da Triangular e alguns camponeses eleitos, onde suas funções eram meramente simbólicas, apenas para manter a ordem e verificar a lealdade de alguns. Então já deu pra perceber que Brosch nasceu com aquele encadeado em U, e com o tempo, fazendas foram sendo construídas ao seu redor, entre alguns outros prédios de portes pequenos.
     Mas dando continuidade ao acontecido, minha mãe já esperava ser chamada, as produções e colheitas de Brosch andavam em baixa devido a época, e Mardora estava em grande safra, e também era uma das maiores de toda Triangular, sofria constantes ataques, por isso era recrutado gente de todos os lugares, tanto coletores quanto militares de divisão ordinária. Para os militares, essa época era conhecida como noite do desespero, porque haviam muitos ataques noturnos, a vida era um preço a ser pago para que as produções em Mardora continuassem. Isso tudo se dava ao fato de Mardora se encontrar ao lado da Ruína do Desespero, lugar repleto de bárbaros, canibais e espécimes noturnas, alguns deles conhecidos como olhos azuis, cuja a origem do nome reflete a única coisa que se vê quando eles estão perambulando pelos bosques à noite, seus olhos azuis claros de brilho intenso. Mas os ataques à Mardora mais recorrentes vinham dos bárbaros e de alguns saqueadores que vagueavam por ali.
     Estava chegando o entardecer, minha mãe acabara de arrumar todas as malas. Ela ainda precisava telecomunicar a meu tio da minha chegada. Mas você deve estar se perguntando: por que sua mãe não resolveu fugir? Por que tem que ceder tão facilmente? A resposta é muito simples: nós morreríamos. E não, nenhum soldado da Triangular faria esse trabalho, pois são seres éticos, disciplinados e com amor ao próximo, porém eles sabem que para a evolução de uma sociedade, de maneira justa, todos têm que contribuir, e infelizmente alguns têm que ceder alguns privilégios, largar algumas mordomias para que haja um crescimento, não individual, mas sim social. Eles não enxergaram minha mãe como um todo, e sim como uma célula integrante de todo um sistema. Uma ideia muito difundida entre os governantes da Triangular é que não existe um trabalho melhor, ou um cargo maior, que o outro. Todos têm a mesma importância, apenas se encontram em espectros diferentes. Um rei da Triangular não se percebe superior à ninguém, sabe que seu propósito ao nascer foi de ser preparado para o governo, e que dependendo da perspectiva em que olhamos: ou ele é quem ajuda, ou ele que é ajudado. Ou as pessoas que o serve, ou ele que serve às pessoas. E minha mãe, em plena consciência de suas obrigações como uma Viduabel, viúva de um militar, deveria aceitar sem resistência. E não ficando claro a parte de que nós morreríamos, eu explico com uma frase muito conhecida entre os triangulares "Não há vida fora de nossas fronteiras". Realmente não há. Muitos selvagens vagueiam a própria região da Triangular, e é difícil de contê-los devido ao vasto continente. Agora imagine o que encontraríamos nas mais irrisórias profundezas do sul.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Uma carta à Sofia

      Tá, vamos lá...
     Você me pegou em um momento difícil de minha vida. Pode até não parecer, porque por fora sou grande, forte, cheio de vida, simpático e sorridente (com pessoas específicas), brinco bastante, e com todo esse emaranhado supracitados eu camuflo o que há dentro de mim. Seria bonito se eu dissesse que o que falta dentro de mim só você preencheria, seria bem romântico, mulheres suspirariam ao ler, mas não passaria de uma mentira, ou não, talvez até possa ser verdade. Porém, não tenho a resposta para isso, ainda não me descobri, por isso crio barreiras para tudo em minha vida, por isso desisto de tantas coisas, desvalorizo, ignoro, e até mesmo sofro à respeito. Mas apesar de tudo eu descobri você, e agora é verdade, sem dúvidas. Sabe aquela pessoa de quem você menos esperaria uma declaração, pronto! Essa pessoa, pra mim, é você. Para ter uma ideia, até agora estou sem entender toda essa situação, e quando estou a sua frente nem sei como devo agir. Como que uma pessoa que nunca foi próximo a mim e nunca nem demonstrou esforço para isso pode agora ser minha estima. Mas eu confesso que já percebi alguns olhares seus quando nos conhecemos, mas foram só olhares. Talvez olhares de uma curiosa, ou olhares de uma admiradora, de uma observadora, de uma inocente, de uma outras tantas coisas... Mas o importante é que você me olhou e eu olhei de volta. 
     Não sei se você percebeu, mas em poucas linhas eu fugi totalmente do assunto, antes eu falava de mim, depois falei de você, então que tal falarmos de nós? Será que existe um nós? Não sei, sério, mas eu tenho vontade que exista. Seria uma nova experiência, novas aventuras, novos sabores, nova vida. Mas também pode acontecer de ser um novo desafeto, uma nova lágrima, uma nova tristeza, um novo muro que desaba. Mas sabe quando é que um muro se desaba? Quando ele é mal construído. Então agora voltamos para o que eu falava no começo do texto, do fato de eu ainda não me conhecer; de me encontrar um pouco perdido; eu ainda preciso me construir, preciso me fortalecer, preciso ser grande (não só no tamanho), preciso engradecer meu coração, preciso que meu sangue pulse forte, preciso sentir verdade, e preciso parar de precisar. E que talvez algum dia eu só precise de você ao meu lado. Porque só com a robustez, meu muro nunca desabará. E com um muro firme, construirei minha fortaleza, e nessa fortaleza irei abrigar todos aqueles os quais eu tenho apreço, quero os manter vivos, seguros, e você se inclui. Mas talvez você se encontre em um patamar diferente, talvez você seja aquela que comigo, a fortaleza, construirá. E por isso eu espero que você seja segura,  forte, independente, vivaz, mais do que já é. Quero que seu sol brilhe mais forte, intenso, e que te queime, mas queime por dentro, e te ilumine, energize, dê-te vida.
     Nesse texto eu tentei falar sobre o nós, mas cheguei a conclusão que esse "nós" não existe, ainda. Somos peças separadas, esquecidas no fundo da gaveta esperando o momento em que sejamos sacados e colocados em tabuleiro. Para no jogo, jogar. Mas que seja um jogo limpo, sem trapaças, sem correria, nunca acima das leis, mensurando cada jogada, e que apesar de qualquer tensão intrínseca na estratégia, nós possamos nos divertir. Porque, quão valeria tanto esforço se no final eu não pudesse te ver sorrir?

terça-feira, 16 de julho de 2013

Não são só palavras

Pessoas que não aguentam palavras fortes
No princípio elas contam até com a sorte
E não ouvem um rugido dentro de si
Já que há um medo enorme de cair
E do sono leve despertar

Enquanto eu sonâmbulo
Cansado de ser caçado

Por falar em cansado,
Cansaram de minhas palavras
Todas sempre incisivas
Não menos permissivas
De longe as menos fracas
Pois não são de bom grado
E rasga tudo
Até o que está ferido.

Mas eu hei de aprender a respirar
Menos ofegante, eu talvez repense
E entenderei o que não se entende
E voltarei a dormir sem acordar.

domingo, 7 de julho de 2013

O exilado

Parece um amontoado
De julgadores e julgados
Compreendendo o silêncio
E a resposta que vem fácil
De um olhar arrebatador
Que o arremessa longe
Para perto de nem sei onde
Lugar o qual no horizonte
Apenas se vê o sol fugir
Sem precisar fingir
A preocupação com o alheio
Já que sozinho no veraneio
Nem mais o sol se tem
Imagina um outro alguém
Para compartilhar dessa agonia
Nas conversas do dia a dia
Sem ter nada a perder
Muito menos a querer
Sem cogitar o perdão
Em ser mais um cidadão
Com seu pensamento solto
E não um pensamento perdido.


Sem o essencial

Alimentação frugal
Pensamento banal
Comportamento boçal
No periodo matinal
De um ser racional
Que age como animal
Corrompido pelo mal
Em mais um dia normal
Com mudança temporal
Baseado no mapa astral
Por querer ser sensacional
À seu laço parental
E já cansado de tanto "al"
Acabou a rima por aqui.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Minha própria sombra

Eu não entendo porque eles me perseguem, meu caminho sempre foi tão curto, meu alcance nunca foi tão avantajado, minha influência nunca foi um adorno, meu chamariz é tão fraco, mesmo assim eles estão atrás de mim. Muitos problemas já foram causados, enfraquecem-me, roubam até o que não acredito ter, e quando me dou por conta, nada mais eu tenho, só temo, não pelo meu presente, porque meu sofrimento é pouco, mas sim pelo meu futuro, pois me quero solto, livre, flutuando ou talvez andando sobre o mar. Então eu me vejo enraizado, desde pequeno, nessa mesma sensação de que o tempo passa e eu fico aqui parado. Sim, o tempo é um dos que me persegue, pois não me dá tempo para que eu aprenda a viver. Sempre quis saber de tudo um pouco, e até consegui saber um pouco de tudo, mas esse pouco me é pouco para meu tudo, pois não sou completo, nem sei por onde começar a me completar, nem realmente sei se me falta um pedaço. Talvez quando eu souber, tudo já tenha seu devido espaço, e que, finalmente, eu possa andar sozinho.

No trilho

Passos e suas pegadas
Folhas secas ao vento
Já se passa meu tempo
E eu ainda insisto
No caminho, no trilho
De uma cidade vazia
E um vazio no coração
Desamparada solidão
Não mensurando o que falta
Ela invade o momento
Rápida e rasteira
Ainda, assim, sozinha
Mas eu insisto.

domingo, 9 de junho de 2013

Transição

Na erraticidade
Aqui dentro no escuro
As paredes são frias
O chão é denso
Vozes ressoam o sofrimento
E eu ainda espero o momento

Preso, aqui, nesse caminho
Entre o pecador e o pecado
Nesse escárnio, cansado
Assim como um velho no limbo
Com um suspiro duradouro
De um garimpeiro sem ouro
Na respiração ofegante
Sobrevivendo os instantes

Já que não sinto mais medo
Já que só sinto o nada

Na vivacidade

Nunca pensei que seria assim
Nunca pensei que eu seria amado
Nunca pensei que me esperariam desse lado
E que me abraçariam com amor

Mas é um amor verdadeiro
Não aquele fingimento sorrateiro
Que vagueia pelos pensamentos de nossos irmãos
É algo sem precedentes

Um sentimento sem definição
Isso tudo eu aprendi
Quando encontrei Jesus
Nosso amigo, nosso irmão

Na plenitude

Eu acordo todos os dias
Sento nesse banco
E vejo as pessoas passarem
Elas sorriem, conversam e brincam
Às vezes até choram
Mas é um choro oriundo do amor

Aqui ao redor a esperança é emanada
As áureas se destacam
E se juntam, umas com as outras
Vibrando...

Todos se conectam, se abraçam
Tornando-se um só
Um único sorriso, uma única vida
Uma vinda, uma partida

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Janela do canto

Água que corre em meus dedos
São lágrimas que não vejo
Mas sinto aqui dentro
Bem dentro do meu olhar
Eu que sempre fui de chorar calado
Na cadeira do banco ao lado
Que me serve de escanteio
Acolhendo os meus receios
Já jogados no assoalho
Suportando o meu peso
E o meu passo fraco
Então sigo para o meu aconchego
Debruço-me sobre a janela do canto
E me encanto
Admiro a beleza dos tantos
E me espanto
Por nunca estar em meus planos
A beleza de meu lar

terça-feira, 28 de maio de 2013

E que seja

Escrevo isso olhando sua foto
E você nem percebe
Nem ao menos sonha que isso possa acontecer
Então quem me dera você sonhar comigo
Já imaginou o perigo?
Dois conhecidos, não-amigos
Distantes, sem compromissos
E entre os dois um empecilho
Que não entende o que aconteceu
Era a certa, e agora, erro meu
E te culpa pelo o que ocorreu
Mas você só plantou a semente
Ainda falta muito para a árvore crescer
Já imaginou eu e você,
Se tudo isso pudesse acontecer?
Eu ainda espero que aconteça
Mesmo antes que o dia amanheça
Tudo será o que tiver que ser.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Aos muros do poço escuro

Uma queda funda
Na lama suja de desejos
No alívio das palavras
Em cima do verniz
Deslizando pelas paredes
Juntos, na queda profunda
Que afunda meu sonhos
E persegue meus medos
Com o novo pesar
Uma alma ferida, que ferve
Mas não me serve
Já que sempre quero mais
Ir mais distante
Além, adiante
Mas com ela, eu só vou ao fundo
E afundo.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Do norte ao norteio

Falou-se aos brotos
Sois mais fortes que o rochedo
Abrindo caminhos ao peito
Que nos interfere no olhar
Junto aos cânticos do sabiá
Agradece a chuva que cai
E não molha,
Enxágua.

Lava-me por dentro,
Engradece o que há de bom
Pois, não tem quem faça
Do amor que passa
Ludibriar meu dom

Água que corre, corrente
Se fere, não sente
Se sente, incendeia
Quando bate, norteia
Se me leva, destrói
O que há aqui dentro, corrói

Já busquei e corri
Dos sorrisos que sorri
Nenhum mais te encanta
Então canto,
Batendo ao peito, espanto.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sexto lampejo

     Há de se entender que o que se busca não é atendido, que o que se pede não é alcançado. Pois, onde não há mais alma viva, não há mais o interesse de alcançar mudanças. Seus pensamentos não vivem, seus pensamentos apenas sucumbem em plena sobrevivência. Então busque a paz interior, filtre o que se necessita, e não o que você acha indispensável.
     Eles pedem para que sejam ouvidos, mas não ouvem o que lhes é dito. Apenas usufruem do que lhe é dado, e retira dos moços mais franzinos o que lhe é cotado. Pequenos vícios, grandes tristezas. Uma noite que se ganha e um dia que se perde. Então eles choram, pois não entendem o porquê de não poder mais contemplar da luz do sol.
     O caminho é assíduo e longínquo, não se passa entre as relvas, e nem se assevera entre as flores. Nesse caminho há muitas guerras e também muitas dores. Há muita loucura e desvaneio. Há ilusão sobre os anseios que não mais se corroboram, e nem se completam nas flores das dores de querer continuar. Mas eles continuam a andar perdidamente nessa estrada, a passos largos que se parecem curtos, e no final de tudo tem um tudo a que não  se pode ter.

domingo, 24 de março de 2013

Música

     É o que me mantem vivo, e me abriga em seu refúgio alastrado pelos pensamentos. É o que me conduz como um guia em uma longa viagem à desconhecida cidade, sem ancestrais, sem vida, nem ida, quem dirá volta, prendendo-me a sua volta e me mantendo em pé. Forte, alto, ávido de glória, o mastro do meu navio. Intercepta a fuga desvairada, inclina o percurso para mais uma nova jornada. Não desmerece as meretrizes, revitaliza os despreparados, mastiga a dor em meu coração, transforma meu brilho em oração, repugna minha tristeza, prolifera minha natureza, traz as bençãos dos meus irmãos, transforma rios em mares navegáveis, faz de meu ar mais vivo e oferece tudo que preciso. Porque não vivo sem essa canção, não vivo sem essa melancolia, sem esse cantar, um clamar quase divino, uma mensagem sonora quase visível que transcende qualquer tipo de limitação, traduzindo aquilo que se passa em meu coração, todas as emoções, todos meus motivos e razões, das clarezas mais permissíveis, que me permito escutar, pois não vivo sem música, até mesmo sem dançar.




No ar hoje à noite

Resolvi me atirar entre as pedras
Que rebatem contra o mar
Na intenção de revigorar
Os alicerces das passarelas
Que ligam nossos sentidos
Ao cair dessa tarde

E já posso sentir e esperar
O que eu já sabia que aconteceria
Quando a noite começasse a estrelar
Sua roupa rasgaria

Se você se afogar em meus braços
Eu não te salvarei
Apenas me afogarei
Juntos a construir esses laços
Contando os passos
Renunciando a partida
Revivendo as feridas

Nossos lábios se tocam
As colunas se entortam
Os pensamentos se inundem
As fraquezas sucumbem
Os desejos florescem
Os arranhões aparecem
No calor que incita
No suor que predomina
Olhos que se fecham

No último suspiro
Dois olhos se admiram
O fruto disseminam
Do mais vil ao delírio
De dois corpos firmados
Não mais que encaixados
Em um segurar assíduo
A voar alto
No ar hoje à noite.

sábado, 23 de março de 2013

Um velho soldado

A cor que me subtrai
Já não me atrai
E nem me põe a mesa
Pelas minhas pelejas 
E meus detrimentos
Que são sem fundamentos
E sem os procedimentos
Da doutrina guerrilheira
Que não luta por mim,
A fim, assim, de não mais guerrear.
Já que armas lhe falta
E de braços marcados
Das fardas apertadas
Dos punhos cravejados
E das mãos atadas
Com cabeça fechada
E um choro infantil
O soldado viril
Não contempla da mocidade
Perdeu tempo, se foi a idade
Perdeu tempo, esgotou o pavio.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Entre as veredas

Há certos caminhos que não sigo
Mas essa trilha é tão verde e vasta
Que me faz sentir um tanto de esperança.
Logo, não seria justo me desviar
Outros horizontes, eu trilhar
Caminhos estreitos a andar
Se já achei o caminho certo
Ou pelo menos o que me parece ser.
Então eu insisto em continuar
E durante nossas andanças
Esperando por mudanças
É que surge aquele deserto
Sem sabermos o que dizer
Quando queremos estar perto
E nada podemos fazer
Só nos basta sentar a mesa
E começar a escrever:
Eu nasci para me arriscar
Mas se no final dessa trilha
Um precipício eu encontrar
Eu já saberei o que fazer.
Antes da minha queda
Largarei minhas anotações ao chão
Farei um alento ao meu coração
E do final, estarei a espera
Mas não se engane
Nenhuma gota de sangue cairá
Pois de tanto cair,
O anjo aprendeu a voar.


segunda-feira, 18 de março de 2013

Amizade de enfeite

O silêncio me habita
E me irrita por bem feito
Procurando por preceito
Para não mais habitar

Inocente no seu lar
Pois acredita ser sincero
Elogios que espero
E abraços a ganhar.

Dou conselho, delibero
O excesso, eu enterro
Se for chorar, eu revogo
Pois eu busco o remorso
De mais tempo aguentar.

Mas sempre aguento no calado
Aquele aperto bem fechado
Sete chaves, um armário
Do que parece, mas não é
Sendo João e não José

Porque há sempre interesse
Na amizade de enfeite
Do desejo resguardar
O comércio prevenido
Mercadorias de menino
Que não sabe mais brincar

Se for fingir, seja decente
Apenas ria na minha frente
Que eu abraço como verdade
Não enxergo nenhuma maldade
Do seu desejo de agradar.

domingo, 17 de março de 2013

Pedaços

     Pedaços, o que faremos com os pedaços, juntaremos tudo e faremos um inteiro? Um inteiro de pedaços iludidos, um inteiro de pedaços desgarrados, mas quando estão juntos são amados, fazendo parte de um conjunto. E é no conjunto que se compõe a obra, delineia-se as fronteiras, corrobora os limites e iniciam-se as provas, os encaixes, as afinidades, como em um quebra-cabeça onde cada peça tem seu devido lugar. Porém, muitos pedaços são esquecidos, deixados de lado, ou muitas vezes, apenas na pena serena de Helena berram para não poderem se encaixar. Pois, eles não conseguem entender a razão, apenas explicada pelo coração, bondoso e fadigado de tanto nadar em um mar escarço de amor, deles terem que com outros pedaços se abraçar. Fazendo, então, Helena pedir "por favor" para em seus lugares se segurar, já que todos precisam se abraçar, e um todo de tudo toldar os pedaços que fazem parte de mim. E eu, quando for inteiro, serei inteiramente seu. E se eu voltar a me despedaçar, apenas espere meus pedaços, mais uma vez, um inteiro se formar.

sábado, 16 de março de 2013

Azeitona

É linda essa Oliveira
Vestida à la rendeira
Nos requintes do quero-mais
Tem muito amor,
Mas tanto faz
Pois ela não passa interesse
Só olha pra mim e disfarça
Arranca uma flor e se flore
Faz carinho e me morde
Acaricia-me com a mão
E se despede.
Um dia, Oliveira
Há de ser escalada
Há de render o fruto
E do seu fruto,
Faço questão de colher.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O que eu preciso aprender

Dizem que esqueço o momento
Que me guardo bem guardado
Dois ouvintes, um desejo
Do ciúmes amargurado
Então, disponha-se no intervir
Nas matrizes do seu lar
Inibindo os prepotentes
Do mergulho mergulhar
Da maçaneta não girar
E da chaleira não ferver

E me preocupa você
Que escuta o bom menino
Perspicaz e bem franzino
Não entender a boa prosa
Que detém a boa nova
Mas de novo a enferrujar

O andarilho bem faceiro
Come quieto no escanteio
Um pão amassado e sem recheio
Com sorriso de lado a lado
Observando a cada prato
O que lhe falta e não faz falta

Logo, andarilho e o menino
Seguem em minha direção
Dizem que sou bom homem
E que tenho coração

Porém me guardo bem guardado
Digo que adiantem o passo
E que façam a oração
Pois o dia já vira noite
E há bandido com açoite
Que não age com perdão

Eles teimam em me dizer
Que eu apenas preciso saber
De uma das virtudes da vida:
O preço da condolência
Alcançado com persistência
Uma dádiva, um dever

Eu viro as costas e faço descaso
E o ensinamento fica de lado
Mas o que importa é que foi tentando
Com poucas palavras me dizer
Que há muita coisas nessa vida
Das quais precisamos aprender
Então aprenda hoje comigo
Que eu aprendo com você.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Atrás daquela porta

Em cima da mesa, 
Papel e caneta
Lá no porão, 
O que já não presta
Em cima do fogão, 
O que me interessa
Mas atrás daquela porta,
Estreita e envergada
Eu guardo as cartas não lidas
Porém as mais cobiçadas
Apenas por favorecer a retina
Com palavras ouriçadas
Que me destranca como chave
E eu fechadura
Tocando-me por toda parte
Por tal desventura.
Se quer me desvendar
Primeiro abra essa porta
Leia as cartas certas
E depois vá embora
Não me deixe saber
Que as cartas foram lidas
Porque antes de você,
Houve muitas partidas
E se eu for dormir a pensar
Que você sumirá no horizonte
Eu prefiro não acordar
A ter que ir tão longe

segunda-feira, 11 de março de 2013

Beirando a noite

     Não é falta do que dizer, é apenas a falta de fala, ou de falar o que internamente não digo. Então repito o que disse e falo o que eu não queria dizer. Assim eu invento história, incentivo a prosa, gaguejo palavras, evito o que é prolixo e sabatino a bíblia, para que no final das contas eu possa te dizer: 
- aqui dentro há guardado milhões de palavras desorganizadas, escrita em livros empoeirados que há séculos não foram lidos. E quando eu abro e tento ler para você, eu retrocedo. Arranco passos e logo percebo sua oratória dizendo "não vá embora", fazendo-me assim compadecer. Então, sinto-me apunhalado, expurgado pelos fatos, atingido na virilha, caminhando sem convalescer. Sento-me sob uma pequena árvore, penso tanto que não reflito, respiro o ar que já não sinto, e caio dentro de você.

domingo, 10 de março de 2013

A protagonista - I

São tantos olhares
São tantos medos
Há tantos lugares e dedos
Que apontam e julgam
Bocas que humilham
Gaiolas que prendem
E olhos que insultam

Verdades criadas e compradas
Realidade forçada e fingida
Tingindo o dia de noite
E a noite de dia.

De repente,
O palco está montado
O público está lotado
A iluminação que irradia
Mas a atriz já tardia
Logo ela, a principal
Vinda do plano astral
Protagonizando a peça
O espetáculo sem fim

Ela sente calafrios
E com as mãos suadas
Nervosa,
Não sabe o que vão dizer
Muito menos o que irão pensar
Importa-se tanto com os outros
Que esquece de se encontrar

Mas ela diz que enfrenta
Pois isso não é um problema
Ela não tem frescuras
Rodeada de ataduras
Que cobrem a marca da dor
Já que sofreu demais
E nunca correu atrás
De uma cura encontrar.

Eu respiro

Nós paramos de respirar
Quando não há o que procurar
Entre as vielas retóricas
E filamentos descontínuos
Que hoje estão descalços,
Cansados, porém assíduos
É um caminho que nos conquista
Persuadindo ao sorrir.

Parece desconfortável
Mas é apenas fraqueza
De lágrimas e tristeza
Que se desolam assim

Mas em um jardim desbotado
Onde nasce o broto calado
Que um dia se tornará o jasmim
Eu acho o meu amparo
Aos prelúdios do relicário
Nasce a joia mais rara
Você, guardada em mim

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