quarta-feira, 31 de julho de 2013

Um fim de tarde qualquer

Ela dorme em meus braços
Enquanto caminho pela areia
Na praia, fim de tarde
E um cansaço aparente
Ela acorda dormente
Com um belo sorriso solto

Agora nós andamos lado a lado
Seguindo um mesmo caminho
Não mais pela praia
E sim pela avenida
Pois já anoitece, menina
E o que queres para comer?

De comida servida
À uma sensação de fastio
Sentamo-nos nas cadeiras
Conversamos um pouco
Sobre o dia que se partiu
E aquele que virá

Mas a noite já se passa
E não há nada que me faça
Perecer do meu sonhar
Ainda mais com essa chuva forte
Que me deseja sorte
Para quando eu for acordar.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

#Diário de Klauss - Meu primeiro diário (II)

     Eu me lembro que morávamos em um vilarejo de pilhas encadeadas, que são vários prédios ligados um ao lado do outro, em formato de U. Com uma grande varanda que ligava todas as casas, como era comum em vilarejos mais humildes. A visão dessa varanda era contemplada com uma praça, um grande espaço vazio em areia onde crianças corriam, uma fonte até que grande e tendas que formavam uma pequena feira. Tudo muito simples, construído para os trabalhadores das redondezas do rio Brosch pelo Imperador Tzu. Brosch também era o nome do vilarejo, ficava entre Notakker e Ratignar Hauss, ou seja, em uma zona neutra. Não pertencia à Triangular, mas recebíamos proteção e alguns serviços por força de trabalho em troca. Brosch era grande, tinha muitos campos de colheitas, principalmente de arroz, algumas mineradoras, criação de animais, extração de essências e ervas, e um pequeno centro de treinamento militar formado pelos próprios camponeses hábeis de uma divisão ordinária. Também nos foi fornecido o centro de cura e espiritualidade, a Sentinela e o Caldeirão que é um grande restaurante. Isso tudo majoritariamente fornecido pelo Império de Notakker, que também era o que mais se aproveitava dos recursos. Devido o grande crescimento de Brosch, foi formado um time de inspetores, constituído por membros do comitê social da Triangular e alguns camponeses eleitos, onde suas funções eram meramente simbólicas, apenas para manter a ordem e verificar a lealdade de alguns. Então já deu pra perceber que Brosch nasceu com aquele encadeado em U, e com o tempo, fazendas foram sendo construídas ao seu redor, entre alguns outros prédios de portes pequenos.
     Mas dando continuidade ao acontecido, minha mãe já esperava ser chamada, as produções e colheitas de Brosch andavam em baixa devido a época, e Mardora estava em grande safra, e também era uma das maiores de toda Triangular, sofria constantes ataques, por isso era recrutado gente de todos os lugares, tanto coletores quanto militares de divisão ordinária. Para os militares, essa época era conhecida como noite do desespero, porque haviam muitos ataques noturnos, a vida era um preço a ser pago para que as produções em Mardora continuassem. Isso tudo se dava ao fato de Mardora se encontrar ao lado da Ruína do Desespero, lugar repleto de bárbaros, canibais e espécimes noturnas, alguns deles conhecidos como olhos azuis, cuja a origem do nome reflete a única coisa que se vê quando eles estão perambulando pelos bosques à noite, seus olhos azuis claros de brilho intenso. Mas os ataques à Mardora mais recorrentes vinham dos bárbaros e de alguns saqueadores que vagueavam por ali.
     Estava chegando o entardecer, minha mãe acabara de arrumar todas as malas. Ela ainda precisava telecomunicar a meu tio da minha chegada. Mas você deve estar se perguntando: por que sua mãe não resolveu fugir? Por que tem que ceder tão facilmente? A resposta é muito simples: nós morreríamos. E não, nenhum soldado da Triangular faria esse trabalho, pois são seres éticos, disciplinados e com amor ao próximo, porém eles sabem que para a evolução de uma sociedade, de maneira justa, todos têm que contribuir, e infelizmente alguns têm que ceder alguns privilégios, largar algumas mordomias para que haja um crescimento, não individual, mas sim social. Eles não enxergaram minha mãe como um todo, e sim como uma célula integrante de todo um sistema. Uma ideia muito difundida entre os governantes da Triangular é que não existe um trabalho melhor, ou um cargo maior, que o outro. Todos têm a mesma importância, apenas se encontram em espectros diferentes. Um rei da Triangular não se percebe superior à ninguém, sabe que seu propósito ao nascer foi de ser preparado para o governo, e que dependendo da perspectiva em que olhamos: ou ele é quem ajuda, ou ele que é ajudado. Ou as pessoas que o serve, ou ele que serve às pessoas. E minha mãe, em plena consciência de suas obrigações como uma Viduabel, viúva de um militar, deveria aceitar sem resistência. E não ficando claro a parte de que nós morreríamos, eu explico com uma frase muito conhecida entre os triangulares "Não há vida fora de nossas fronteiras". Realmente não há. Muitos selvagens vagueiam a própria região da Triangular, e é difícil de contê-los devido ao vasto continente. Agora imagine o que encontraríamos nas mais irrisórias profundezas do sul.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Uma carta à Sofia

      Tá, vamos lá...
     Você me pegou em um momento difícil de minha vida. Pode até não parecer, porque por fora sou grande, forte, cheio de vida, simpático e sorridente (com pessoas específicas), brinco bastante, e com todo esse emaranhado supracitados eu camuflo o que há dentro de mim. Seria bonito se eu dissesse que o que falta dentro de mim só você preencheria, seria bem romântico, mulheres suspirariam ao ler, mas não passaria de uma mentira, ou não, talvez até possa ser verdade. Porém, não tenho a resposta para isso, ainda não me descobri, por isso crio barreiras para tudo em minha vida, por isso desisto de tantas coisas, desvalorizo, ignoro, e até mesmo sofro à respeito. Mas apesar de tudo eu descobri você, e agora é verdade, sem dúvidas. Sabe aquela pessoa de quem você menos esperaria uma declaração, pronto! Essa pessoa, pra mim, é você. Para ter uma ideia, até agora estou sem entender toda essa situação, e quando estou a sua frente nem sei como devo agir. Como que uma pessoa que nunca foi próximo a mim e nunca nem demonstrou esforço para isso pode agora ser minha estima. Mas eu confesso que já percebi alguns olhares seus quando nos conhecemos, mas foram só olhares. Talvez olhares de uma curiosa, ou olhares de uma admiradora, de uma observadora, de uma inocente, de uma outras tantas coisas... Mas o importante é que você me olhou e eu olhei de volta. 
     Não sei se você percebeu, mas em poucas linhas eu fugi totalmente do assunto, antes eu falava de mim, depois falei de você, então que tal falarmos de nós? Será que existe um nós? Não sei, sério, mas eu tenho vontade que exista. Seria uma nova experiência, novas aventuras, novos sabores, nova vida. Mas também pode acontecer de ser um novo desafeto, uma nova lágrima, uma nova tristeza, um novo muro que desaba. Mas sabe quando é que um muro se desaba? Quando ele é mal construído. Então agora voltamos para o que eu falava no começo do texto, do fato de eu ainda não me conhecer; de me encontrar um pouco perdido; eu ainda preciso me construir, preciso me fortalecer, preciso ser grande (não só no tamanho), preciso engradecer meu coração, preciso que meu sangue pulse forte, preciso sentir verdade, e preciso parar de precisar. E que talvez algum dia eu só precise de você ao meu lado. Porque só com a robustez, meu muro nunca desabará. E com um muro firme, construirei minha fortaleza, e nessa fortaleza irei abrigar todos aqueles os quais eu tenho apreço, quero os manter vivos, seguros, e você se inclui. Mas talvez você se encontre em um patamar diferente, talvez você seja aquela que comigo, a fortaleza, construirá. E por isso eu espero que você seja segura,  forte, independente, vivaz, mais do que já é. Quero que seu sol brilhe mais forte, intenso, e que te queime, mas queime por dentro, e te ilumine, energize, dê-te vida.
     Nesse texto eu tentei falar sobre o nós, mas cheguei a conclusão que esse "nós" não existe, ainda. Somos peças separadas, esquecidas no fundo da gaveta esperando o momento em que sejamos sacados e colocados em tabuleiro. Para no jogo, jogar. Mas que seja um jogo limpo, sem trapaças, sem correria, nunca acima das leis, mensurando cada jogada, e que apesar de qualquer tensão intrínseca na estratégia, nós possamos nos divertir. Porque, quão valeria tanto esforço se no final eu não pudesse te ver sorrir?

terça-feira, 16 de julho de 2013

Não são só palavras

Pessoas que não aguentam palavras fortes
No princípio elas contam até com a sorte
E não ouvem um rugido dentro de si
Já que há um medo enorme de cair
E do sono leve despertar

Enquanto eu sonâmbulo
Cansado de ser caçado

Por falar em cansado,
Cansaram de minhas palavras
Todas sempre incisivas
Não menos permissivas
De longe as menos fracas
Pois não são de bom grado
E rasga tudo
Até o que está ferido.

Mas eu hei de aprender a respirar
Menos ofegante, eu talvez repense
E entenderei o que não se entende
E voltarei a dormir sem acordar.

domingo, 7 de julho de 2013

O exilado

Parece um amontoado
De julgadores e julgados
Compreendendo o silêncio
E a resposta que vem fácil
De um olhar arrebatador
Que o arremessa longe
Para perto de nem sei onde
Lugar o qual no horizonte
Apenas se vê o sol fugir
Sem precisar fingir
A preocupação com o alheio
Já que sozinho no veraneio
Nem mais o sol se tem
Imagina um outro alguém
Para compartilhar dessa agonia
Nas conversas do dia a dia
Sem ter nada a perder
Muito menos a querer
Sem cogitar o perdão
Em ser mais um cidadão
Com seu pensamento solto
E não um pensamento perdido.


Sem o essencial

Alimentação frugal
Pensamento banal
Comportamento boçal
No periodo matinal
De um ser racional
Que age como animal
Corrompido pelo mal
Em mais um dia normal
Com mudança temporal
Baseado no mapa astral
Por querer ser sensacional
À seu laço parental
E já cansado de tanto "al"
Acabou a rima por aqui.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Minha própria sombra

Eu não entendo porque eles me perseguem, meu caminho sempre foi tão curto, meu alcance nunca foi tão avantajado, minha influência nunca foi um adorno, meu chamariz é tão fraco, mesmo assim eles estão atrás de mim. Muitos problemas já foram causados, enfraquecem-me, roubam até o que não acredito ter, e quando me dou por conta, nada mais eu tenho, só temo, não pelo meu presente, porque meu sofrimento é pouco, mas sim pelo meu futuro, pois me quero solto, livre, flutuando ou talvez andando sobre o mar. Então eu me vejo enraizado, desde pequeno, nessa mesma sensação de que o tempo passa e eu fico aqui parado. Sim, o tempo é um dos que me persegue, pois não me dá tempo para que eu aprenda a viver. Sempre quis saber de tudo um pouco, e até consegui saber um pouco de tudo, mas esse pouco me é pouco para meu tudo, pois não sou completo, nem sei por onde começar a me completar, nem realmente sei se me falta um pedaço. Talvez quando eu souber, tudo já tenha seu devido espaço, e que, finalmente, eu possa andar sozinho.

No trilho

Passos e suas pegadas
Folhas secas ao vento
Já se passa meu tempo
E eu ainda insisto
No caminho, no trilho
De uma cidade vazia
E um vazio no coração
Desamparada solidão
Não mensurando o que falta
Ela invade o momento
Rápida e rasteira
Ainda, assim, sozinha
Mas eu insisto.

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