segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Rascunho

     Eu não escrevo para os outros, não escrevo com a intenção de atingir uma multidão. Eu sou seletivo em minha vida, em minhas escolhas, em meus amigos, não seria diferente com minha escrita. Meu alvo sou eu mesmo na maioria dos casos. Eu espero de alguma maneira entender as ideias e sentimentos tumultuados aqui dentro. Mas, confesso, às vezes existe um você, mesmo que você não saiba que eu escreva. E em último caso há um vocês, pois se cheguei a vocês é porque o recado tinha que ser dado.

Está tudo bem

Está tudo bem
Eu atendi o telefonema
Disseram-me tudo
E tudo significou nada

Está tudo bem
Eu já esperava por isso
Já esperei  por você
Agora espero por nada

Está tudo bem
Não me abalo fácil
Já me abalei bastante
Mas hoje, eu sinto nada

Talvez as minhas palavras
Mascarem a verdade
Talvez eu não queira te preocupar
Mas talvez nada seja mentira
Por que no fundo
Eu só quero te ouvir falar:
Está tudo bem.

sábado, 26 de outubro de 2013

Em meu canto

São dias calmos em meu arvoredo
Um sol padecente, mas cintilante
Sombras acolhedoras, vento frio
Logo mais, um bom vinho
E um livro na mão
Sentado no chão
Aproveitando o momento
Como se um momento melhor
Não pudesse existir

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sem querer

Já era tarde quando tudo se foi
Meus livros, minhas cartas
Nada restou, apenas papeis vazios
Assim como meu olhar
Vago e distante
Buscando algum semblante
Nas sombras turvas dessa noite

Agora amanhece ligeiramente
Cidade ainda adormecida
Ouço quase nada
Apenas assovios passageiros
Do vento frio dobrando as esquinas

Os primeiros passos aparecem
Primeiras gargalhadas
E um primeiro sorriso
Que me faz sorrir
Assim mesmo, sem querer

Ela é bela, assim mesmo, sem querer
De uma sutileza ímpar, mesmo sem querer
Ousada, talvez por querer
E me conquista a cada segundo
Assim mesmo, sem querer

Mas não sei o que acontecerá
Apenas sei que tenho folhas soltas
Livres, desimpedidas
As quais pretendo enriquecer
Com minhas palavras
E uma nova história
Que nasceu, assim, sem querer.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Caderno de mão

Eu ainda era menino
Com meu caderno de mão
Presente de meu irmão
Que hoje não é vivo
Mas vive em mim
Sempre ao meu lado
A cada passo
Respirando outros ares
Sofrendo os males
Em algum lugar
Um lugar qualquer
Conhecido como lar
Aqui, bem pertinho
Quase meu vizinho
Lendo minhas cartas
Escritas em pensamentos
Sobre meus momentos
E as coisas que já vivi
Tudo em meu caderno de mão
Guardado com gratidão
Enterrado em meu jardim

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O paciente

A arte da paciência
Em essência
Não se sabe o que faz
Um tanto incapaz
Rompendo sem freio
A ânsia em cheio
Acolhida no peito
Desfeito
Então me desfaço
No compasso
Eu conto o meu tempo
Me perco nas horas
Jogadas ao vento
Jogadas lá fora
Em seus ombros
Seus braços
Dê-me um abraço
Que o tempo passa
E eu me passo
Bem paciente.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O carteiro

     Sou um carteiro um tanto feliz, caminhando entre ruas repletas de pessoas simples, gramado reluzente e verde, pichações nas paredes, vozes que não reconheço e nem entendo, com uma trilha sonora regida pelos pássaros e som dos carros, apenas seguindo uma trilha com o talento de esculpir, mesmo que de forma árdua, nossa maneira de viver e sentir, trilha tal que nos mostra que é necessário viver, mas que para viver, precisamos sobreviver, definir, ceder, provir, prever, saber, sentir, cair, rever, e então reerguer. Nem sempre nossos sonhos estão sendo sonhados com a mesma frequência e intensidade, mas continuam ali, mesmo que esquecidos por alguns segundos, minutos, eles não deixam de existir. Pois, oras, eu sou um carteiro feliz. Eu vou até as pessoas, entrego as boas novas, que às vezes nem são tão boas, mas necessárias. Conheço essas vielas curvas e cinzentas como a palma de minha mão. Posso parecer perdido, mas estou apenas perdido em meus pensamentos, eles voam longe, voam tanto quanto meu desejo de voar, pensamentos esses que refletem em meus olhos, mudam meu semblante, tornando-me mais vivo, vivo entre as vielas, apesar de não parecer. Sou carteiro, ando por aí, estou em todos os lugares mesmo que não pareça e ninguém perceba. As pessoas só me vêem ou percebem que passei quando faço uma entrega. Isso é meio frustrante, confesso, mas não há de ser sempre assim, meu caminho eu hei de mudar, não será mais o caminho das cartas a serem entregues, será o meu caminho, o caminho de uma criança que irá jogar bola, de uma pai que irá passear com seu filho, de um marido que entregará cartas apenas para uma pessoa.

Às vezes

Às vezes, 
não há nada a ser dito
Nada a ser revisto
Já que não há vontade
Se tem, não se sabe
Pois já não mais escrevo
E se escrevo, não consigo ler
Então paro de escrever
Na esperança de sentir
O que há dentro de mim
E que às vezes não sinto
Apenas às vezes.

Creative Commons License
Klauss Diary by Gabriel Barbosa is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivs 3.0 Unported License.