quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Despertar I e II

Despertar I

Após o sol em uma dia comum
É que vem o florescer
Mas não são rosas, não se engane
Só se desprenda do temer
Não reprima o que há dentro de ti
Não haja de supetão
Apenas acorde, meu irmão.
Você tem uma vida inteira,
Uma vida inteira de trabalho.

Despertar II

Entre os lírios não há vidência
Apenas há a providência
E a procura que os olhos devem ter.
Então acordo entre os laços,
E desfaço de tudo que me prende
Assim pede Jesus.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Placebo

Propenso à más ideias
Encolhido pelas vertigens
Em um Mundo dissonante
Tomado pelos calmantes
Atirado aos lençóis
Alternando os faróis
De cabeça revoada
Quiçá interpolada

Meu amigo, a culpa não é sua
Não é essa vida que Deus te deu
Você que cedeu, amigo meu
E perdeu seu indulto
Caído aos frascos
No muro,
Ou na beira do precipício.

E qualé o valor que isso tem?
Realmente vale o fardo?
Você até tem comida,
Mas lhe falta o prato.

Sempre há outras saídas
Apenas não desperdice
Esqueça as sandices
E chega de recaídas

Diga adeus aos demônios
Os que cauterizam dentro de ti
Hoje a luz brilha forte
Acredito que seja sorte
Acredito que seja vida
Na saudosa despedida
Da realidade fantasiada.

Se eu soubesse

     Eu apenas estou vendado, despido, sentado em uma cadeira, e de mãos atadas. Eu poderia estar preocupado com essa situação, e incomodado com o frio nesse horizonte em frente ao mar. Mas esses são os menores dos meus problemas. Essa voz sussurrando em meu ouvido, oferecendo-me liberdade e os mais sórdidos prazeres que eu já pudera ter, que é assustadora. Por mais que eu esteja interpelado a tais desfrutes, devo reconsiderar que de minha visão eu necessito. Há anos que estou aqui, sobre a areia da praia, sempre na brisa forte. De manhã quente, e noite fria. Mas nada enxergo e nada faço. Algumas vezes as marolas alcançam meus pés, é de uma sensação arrepiadora em primeira instância, mas vai melhorando a cada ida e vinda dessa água do mar. Penso que aquele momento foi tão gratificante, que até me sinto satisfeito. Porém eu sei que poderia ter mais, e que o mais é o normal para os outros. Por isso eu venho a pensar: com esses anos de "exílio sensorial" eu aprendi a me acostumar, e ouso a dizer que até vivo bem. E o mais engraçado é que a única coisa que me deixa mal é a ideia de saber que essa minha "felicidade" ou vivência poderia ser bem melhor, alcançando uma variação exponencial. Então muitos me perguntam "Já que você sabe disso, por que você não abraça o mundo e aceita essa liberdade?", e a resposta é simples, eu apenas repito o que tinha dito e friso a palavra "poderia". É a simples insegurança de arriscar por não saber o que pode acontecer. Eu até arriscaria, mas essa é uma experiência que mudaria todos meus paradigmas, tornando essa minha situação em algo irreversível. E se por acaso essa liberdade não me fosse de agrado, eu simplesmente sentaria em minha cadeira, vesteria a venda e pediria a alguém que atasse minhas mãos novamente? Eu acho que não funcionaria, eu já teria conhecido as cores, já estaria corrompido por um outro mundo. Talvez eu até pudesse voltar, mas nada voltaria a mim. Logo, eu ficarei um pouco mais aqui, esperando que algum dia essa voz cálida me convença de que arriscar e aceitar as mudanças seja o melhor a ser feito.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Entre, está aberto

Eu aprendi o que tanto evitei
E cansei de cansar por evitar
Resolvi apenas te aceitar
E aceitar o que surgia assim
Desajeitado dentro de mim
Ou dentro de nós,
Espero.
Sincero e calmo.

Às vezes, arrependo-me
Por ter aprendido com você
Que para se estar bem
Não importa o que se tem
E sim o que lhe é dado

Podia ter sido diferente
Não assim tão recente
Um adorno corriqueiro
Um amor passageiro

Mas a vida tem dessa
Apressando o sem pressa
Contentando o descontente
Da maneira mais decente
Aquele que nos vigia
E não tem receio de se encantar

Então aos laços,
Nos descasos e desfeitas
Não seja a água corrente
Seja algo bem diferente
Talvez o sol que me aqueça
Esperando que você não se esqueça
Do brilho de seu olhar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Quinto lampejo

Onde há fogo, há vida
Onde há vida, há esperança
Como no olhar de criança
Que vive livre a chorar
Então chore em meus braços
E abrace o encanto
Tão faceiro, entre tantos
Ele começa a orar.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tudo que eu sei

     Entre todos encantos que eu conhecera, você se encontra acima. É de uma beleza inestimável, por conquistar todos olhares que eu desvencilho a meu redor. Fazendo-me querer apenas ouvir sua voz, aquele cantar desprevenido como o cantar das pessoas que andam entre as ruas da vida, despreocupadas, felizes, satisfeitas. É um cantar doce, abstraído da inocência. Assim, ao lhe escutar, eu me desfaço dos prelúdios de Chopin, e passo apenas a te ouvir. Cada nota, cada harmonia, suavizando meus pensamentos, minha mente. Naquele momento eu só penso "como é bom te ouvir".
     Mas na vida nem tudo é tão simples, pois sua vasta beleza não me vem a corroborar, apenas me gera inquietudes. É como navegar em um expressivo mar, e diante de sua calmaria, isento de ondas e tremulações, eu me pergunto: está cedo demais, ou meu tempo já se passou? Logo agora que queria enfrentar as demasiadas e furiosas ondas desse mar. Queria que tais foças da natureza tentassem me derrubar, para que eu apenas segurasse tua mão, minha amada, e dissesse:
- A primeira vez que me deparei com seu encanto foi em uma noite vazia, triste, populada pela soberba. Foi uma noite escura, até que seu olhar me olhou. Contundente, penetrante, me paralisou por alguns segundos, segundos esses que duraram uma eternidade e estão eternizados em meu pensamento. E apenas com esse olhar eu te disse "que haja luz" e houve luz, "que haja vida" e houve vida, "que haja amor" e uma estrada surgiu. Nossa trilha, feita para que caminhemos em nossas tardes frias, talvez de mãos dadas, ou eu te carregando em meus ombros ou braços. Mas, digo logo, é uma trilha longa, há quem diga que de inalcançável fim. Então, é de se entender caso não queira dessa trilha comigo compartilhar. Não será a primeira a se cansar e desistir. É uma decisão exclusivamente sua, o que posso te dizer é que de sua companhia, seria uma honra desfrutar.
     Como eu havia dito, são apenas inquietudes de um crente que vive de sua fé. Com essa chuva que cai lá fora, irei me deitar, agora, a cama. Descansarei um pouco, e pensarei em você, claro. Mas não se preocupe, não pense que essa calmaria significa que eu desisti de você. Estou apenas esperando o momento certo. Aquele certo momento para te abraçar, os abraços que nos encaminha ao beijar, os beijos que nos encaminha ao ápice do prazer. O prazer de amar.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Novo dia

     Você se acha protegido contra tudo e todos, meu amigo. Isso é um equívoco muito grande. Concorde comigo, nem tudo precisa ocorrer no curso normal, agradando-lhe em todos os sentidos. É mais interessante quando estamos vulneráveis, cálidos feito crianças, desprotegidos, e assim viramos alvos fáceis. Deixe eles brincarem, que nos usem a todo momento, uma hora irão cansar, assim espero. Pois há uma característica muito forte, intrínseca na alma de nós meros "seres pensantes", que é pensar demais. É de tanto pensar que surge o conflito existencial, é de tanto saber que surge a saturação, é de tanto ter que surge a exaustão. Somos movidos pelas conquistas, pelas disputas, pela aprovação e reconhecimento. É uma batalha de egos, um jogo teatral, cenas dinâmicas, espetáculos cotidianos e de incessante atuação. Isso tudo porque buscamos construir um mundo que nos satisfaça. Sim, somos insatisfeitos. Tanto já nos foi dado, porém, queremos sempre mais. E não é errado. Talvez, errado seja a maneira ambiciosa, e as ferramentas impróprias que são usadas.
     Sabendo de tudo isso, por que lutar? Não confronte o que você não pode derrubar. Está dentro de você, é o que você sente, meu amigo. Se quiser lutar, lute contra as possibilidades, lute contra as consequências, contra o que lhe pode ser ofertado. Se haverá fracasso, não sei. É bem provável que sim, e é bom que haja. Se não consegue entender o que digo, apenas olhe para trás, tente enxergar algum fracasso em sua vida, que se por acaso tivesse obtido sucesso, você não teria amadurecido, ganho forças, se tornado uma pessoa mais resiliente. É apenas uma realidade, dentro de tantas outras possíveis. Não tenha medo, não se esconda, nem raciocine muito. Deixa sua intuição agir, muitas vezes é a maneira mais sábia de se manifestar, é a alma falando. Então, você me diz que tem medo dos olhares que julgam, e das bocas que riem. E eu digo que eu tenho medo de você, por não entender tal lição. Esqueça terceiros, aproxime os primeiros, e convide os segundos.
     Não haja da maneira que eles querem, não seja o que eles desejam. Não agrade apenas para ser aceito, não elogie apenas para conquistar. Não guarde palavras com medo de desagradar, e não solte um sorriso apenas querendo socializar. Tente ser menos hipócrita. O que falta é verdade. Não esconda o lado escuro que há dentro de si. Aceite o que você tem guardado, e tente fazer com que os outros também aceitem. Talvez, dessa maneira, eles se sintam à vontade para mostrarem o lado sombrio de cada um. Havendo, por consequência, uma cumplicidade, união e compreensão. Todos juntos poderão, agora, encontrar uma luz para clarear esse quarto inabitado e sombrio. E assim, fazer nascer um novo dia dentro de cada um de nós.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Drama aos 15 - IV

Não lhe prometo o mundo
Não lhe prometo a felicidade
Não digo que te darei tudo
Apenas farei a minha parte

Não quero que das suas expectativas
Venha a nascer uma ilusão
Colocando em risco seu coração
Fazendo nascer assim as feridas

Eu só posso dizer que te amo
E que darei meu sangue e vida
Achando sempre uma saída
Para um sorriso encontrar

Não sou perfeito e nem quero ser
Nem sempre estou certo 
E não preciso estar

Apenas saiba
Tudo que faço é por amor
Tudo que te peço é pro seu bem
Não quero ter que sentir sua dor 
Sofrimento? Vivemos sem

Tudo que passamos foi edificante
Pois nos fez crescer e amadurecer
Eu sei que é normal estar errante
Mas é errado querer permanecer

Amar é um aprendizado
E eu adoro aprender com você
As vezes eu até finjo estar errado
Para você me repreender

Em meu coração tudo permanece forte
E minha alma como sempre viva
Não há mais nada que me corte
Não há mais nada que me fira

Meu amor dura, fortalece e edifica.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

No inverno

Ainda viajo pelas trilhas mundanas
Onde todos esperam ter um fim
Só não esperam chegar perto
Daquilo que não parece certo
Coberto pelo véu,
Longe de mim.

Então caminha a passo lentos
Aproveitando a cada momento
Se é eterno,
Que seja.
Pra que correr contra o tempo?
O que é memorável,
É pra se lembrar
O que é delicado,
Pra se cuidar

Depois de tempo, menino faceiro
Dos seus amigos, os primeiros
Já estarão acima, adiante
E não é do seu espante
Não ter ninguém a te acalentar
Quisestes regojizar por esperto
Mesmo sabendo ao certo
Que no inverno, vem o agasalhar.

Cadê os panos que te dei?
Ora, vendestes para bebida comprar
Agora não terás com o que te cobrir
E com frio irás ficar
É o mesmo que estar mar adentro
Ressentindo pelo momento
Por não saber nadar

Só não deixe bater o desespero
Por que na vida sempre há um jeito
Talvez não venha a nos salutar
Mas segure isso aqui,
Das minhas vestes irás usar.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Displicência

     Aqueles jovens arregaçaram os pulsos, reforçaram o colarinho, e vestiram seus óculos escuros. Estão apossados pelo calor da noite, sentindo-se imunes a qualquer projétil que os possam atingir. No ar elevado, pra cima, olhares fixos na estrada, eles seguem firmes seus caminhos. Por onde passam, os seus estigmas tomam conta, a arrogância, a indiferença. Mas naquela noite tudo mudaria.
     Os jovens adentram na lanchonete tomando os olhares de todos ali presentes. Os moradores da pacata cidade, que estavam jantando na tal lanchonete, já sabiam da fama dos garotos: problema. Só não sabiam que aqueles jovens, que se vestiam de casacos pretos, calças rasgadas, e camisas com linguagem pejorativa e imagens agressivas, eram apenas jovens que buscavam algo que desconheciam. Esses jovens sentiam um vazio no peito, e a rebeldia era uma forma de exaltar as atenções e preencher esse espaço de forma paliativa.
     Após sentarem-se a mesa, eles pedem cerveja para beber e algumas porções de fritas. A noite parecia ser a farra de sempre, mas seria subversiva. Um dos membros recebe uma ligação:
- Eu falo com Daniel?
- Sim, quem está falando?
- Aqui é da Polícia, Daniel, e sinto-lhe em informar que sua mãe veio a falecer - na visão de Daniel o mundo pareceu parar por alguns segundos, não conseguia e não queria acreditar no que tinha acabado de ouvir. Por mais que ele quisesse acreditar que fosse brincadeira, ele sabia que aquela voz era do Sargento Sarmento, que nunca ousaria em fazer tal afirmação para fins jocosos. Então não houve subterfúgios, aquele jovem que parecia independente e durão, que enfrentava e amedrontava a todos, tinha uma fraqueza, e essa fraqueza emergiu. Não importa o que ele era para os outros, aos olhos de sua mãe ele sempre seria um menino. E realmente era, ele percebeu naquele momento. Enquanto seus amigos conversavam, badernavam, ele apenas pusera sua mãe em sua testa, pelo nervosismo e tensão do momento, e começou a lacrimejar. - Daniel...?
- Ainda estou aqui...
- Voc...
- Diga-me, o que aconteceu? - interrompe ao policial.
- Não sabemos muito. Segundo seu irmão, um homem entrou em sua casa gritando pelo seu nome. Sua mãe foi verificar o que e quem era. Ao chegar em seu quarto, sua mãe perguntou ao homem o que ele queria e ele dissera que você tinha algo que o pertencia.
- E o que ele procurava? - perguntou exaltado, já sabendo que essa história podia piorar, ainda mais.
- Calma, chegaremos lá. Em seguida sua mãe pediu ao homem que se retirasse de casa, e ameaçou ligar para a polícia caso ele não saísse. O individuo parecia confuso, agressivo, fora de si, negava-se a escuta-la. Ao pegar o telefone, o homem perturbado, ao desespero, atirou em sua mãe. Quando chegamos ao local ela ainda estava viva, porém muita fragilizada, havia perdido muito sangue. E infelizmente ela veio a falecer a caminho do hospital.
- E quanto ao assassino, você ao menos o pegaram? - pergunta Daniel, após uma pausa tentando assimilar o que tinha acontecido, pois tudo que lhe restava era o ódio pelo assassino.
- Sinto-lhe em dizer que não. Fugiu assim que percebeu a besteira que tinha feito.
- Nenhuma suspeita de quem tenha feito isso? - começando a enaltecer o tom de voz, já possuído pela angustia e incompreensão.
- Não. - o sargento viu agora uma maneira de entrar em um assunto pertinente - Mas, ora, Daniel, diga-me você. Segundo seu irmão, o tal indivíduo disse que você roubara algo dele. E por acaso, encontramos uma grande quantidade de entorpecentes, que com toda a certeza, não era para seu uso pessoal. - acrescenta astutamente.
- Mas isso é uma mentira, nada disso me pertence! - Daniel agora a falar em tom alto, fazendo com que todos ao seu redor parassem suas conversações e o olhassem.
- A cidade é pequena, Daniel. Eu sei muito bem o que você costuma aprontar por aí. Mas hoje sua brincadeira acabou, você conhecerá uma outra realidade. Segundo informações, eu sei que você está na lanchonete no centro da cidade, e sei também que você não irá resistir as viaturas que logo chegarão aí. Certo, Daniel?
- ...
- Daniel?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Eu posso respirar

     Hoje, a noite não será boa, não haverá sucesso em minhas palavras. As nuvens irão cobrir o céu, e a neblina irá nos envolver aos poucos. Nós poderíamos ficar dentro de casa, mantendo-nos aquecidos, mas prefiro não compartilhar do desagrado. Minha casa está sendo frequentada por pessoas das quais eu não sinto admiração e muito menos sou admirado. Então ficarei ao relento sob a lua que me brilha, sozinho em meus pensamentos. Se quiseres me acompanhar, sente-se aqui ao lado. Mas adverto logo, a noite costuma ser traiçoeira, no escuro tudo se perde e nada se acha. 
     Eu já estou acostumado a me isolar de minha própria casa. Ando meio cansado de pessoas que julgam a todos com tanta facilidade, como se eles próprios fossem absolutos em suas insignificantes conjecturas. Eles não percebem o mal que causam, não percebem que frustam bons corações e boas intenções. E isso tudo porque o ato de julgar é sofrer pelos seus pormenores, sentenciando-se um tolo que se acha capaz de exorbitar a cadeia do caos e inferir através de seus paradigmas tecidos pela ignorância.
     Tudo bem, meu amigo. Agora, deite-se. Hoje dormiremos no frio, acolhidos pela lua fagueira. Mas amanhã será um novo dia, assim que o sol nos acordar, daremos-nos conta de que não somos zumbaieiros e que nascemos para incomodar. Não nos conformamos com os formalismos, e nem somos ortodoxos. Aportamos em uma dimensão onde nós somos os formadores, e não os que serão formados. Conciliando a transcendência corpórea à amplitude mental.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

#Diário de Klauss - Meu primeiro diário (I)

     Era começo de inverno, já fazia muito frio, mas a neve ainda não caía. Eu tinha por volta de 3 anos, não lembro de muita coisa. Pelo que me foi contado que minha mãe precisou comparecer aos campos de colheita, era alta temporada, e como ela era uma Viduabel, tinha como obrigação ir. Ela não podia me levar, além de arriscado, os soldados não permitiriam. Então a única solução foi me deixar com meu tio, seu irmão mais velho. O que eu consigo lembrar é que certa manhã um soldado da Triangular bateu em nossa porta. Minha mãe abriu um pouco assustada, e o soldado perguntou:
- Iseult Klauss, viúva do Comandante exilado Tristan?
- Sim, sou eu - fala assustada, pois já previa o que fosse.
- Sou Husba Matoro, soldado da quarta escala de Militia. Vim buscá-la para os campos de colheita em Mardora. Já deves saber que no papel de uma Viduabel, não tens direito de recusa.
- Eu entendo perfeitamente, senhor. Já me avisaram que isso poderia ser possível. Mas entenda que meu marido não morreu na guerra, o corpo nunca foi achado. Ele é tido como fugitivo...
- Sim, sim. Já sei de toda essa história, mas não é comigo a quem deves reclamar.
- Não irei contra a essa escolha. Apenas não sei  que farei a meu filho, ele tem apenas 3 anos.
- Você tem com quem deixá-lo, senhora? - pergunta o soldado compadecendo da situação.
- A única pessoa que tenho é meu irmão, mas ele mora em um vilarejo ao sul de Ratignar Hauss.
- Se a senhora quiser, tem um esquadrão de Militia voltado agora para Ratignar Hauss, posso encarregar alguém para deixá-lo em posse de seu irmão. Já que não é de nossa espécime, defensores da Triangular, deixar nossos trabalhadores ao desalento.
- Claro, entendo. Muito obrigada!
- Nós partiremos ao entardecer, encontre-nos na praça principal - o soldado tira um bilhete do bolso - tome, vá à estação Sentinela e telecomunique seu irmão que seu filho estará chegando em 3 noites. E nesse papel aqui, descreva como chegar na casa de seu irmão. Esse papel será dado ao soldado encarregado.
- Perfeitamente, agradeço sua gentileza.
- Soldado Matoro se retirando, Salve Hauss! - o soldado bate o pé esquerdo e coloca a mão com o punho fechado ao peito, tradição de despedida dos Militianos.
     Logo em seguida, ao fechar a porta, minha mãe veio em minha direção e tentou explicar o que tinha acontecido e o que viria a acontecer. Eu era muito novo, nada entendia, mas sabia que eu iria me afastar de minha mãe, e isso me deixara assustado. Sentei-me a cama, abaixei a cabeça, chorei de forma contida.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cativado

     O novo que se parece velho, ou talvez realmente seja. Só porque a afinidade que eu sinto por você é igual a de que sinto por pessoas que conheço há séculos. O que me faz pensar que já tenhamos uma história, e que ela está apenas guardada. Talvez um capítulo já tenha sido fechado e agora devamos iniciar um novo. Então façamos isso agora, porque ao seu lado eu me sinto livre, a ponto de romper os horizontes, e você o rompendo comigo, escrevendo nossas sandices sem ninguém saber e se preocupar com isso. Posso escrever também sobre seu sorriso encantador e olhar enigmático que as vezes me deixa brechas, e oportunista que sou, revelo-os de maneira minuciosa. Todo esse mistério que encontro em você só me faz querer te conhecer melhor, querer entender esse seu caminhar gracioso, que tem mais mérito por ser um caminhar despreocupado. Você não faz nada para chamar minha atenção, apenas age com naturalidade, e reza para que eu goste de você, assim, como você simplesmente é.
     Menina-mulher ou uma mulher-menina, seja quaisquer, você me cativa. Perpetuo-me em sua alma, em suas nuances e trejeitos, no corpo polido e bem feito, na delicadeza de seus atos, e na sua feição em horas de embaraço. Então se rebele pelos cortejos, diferencie-se dos desejos aos desejados, o que há dentro de ti que é realmente sagrado. Esqueça as leis profanas que aqui vigoram, não abrace esse mundo que corrompe. Há muitos defeitos aqui fora, não seja o tempo que me consome. Habite nos bosques da exatidão, explores os brotos que de mim afloram, caminhe sobre as chamas da certeza, e siga o fluxo da aurora. Dessa maneira tudo dará certo, nosso caminho será traçado até o ponto mais alto de uma colina, acima das nuvens e abaixo do sol.

Drama aos 15 - III

Não sei se você gosta de poemas
Não sei se você admira as rimas
Não sei se isso vai ser um problema
Mas sei que eu devo tentar

Devo abrir seus grandes olhos

Que são os mais lindos e sinceros
Te fazer ler as minhas bobagens
Que são sentimentos expressos nos versos
São as mais puras e vivas verdades
Singela e simples, assim como eu

Não faço isso para te impressionar

Ou mostrar que sou romântico
Pois mentir para te conquistar
É cometer um triste engano

Mas aqui estou, e assim será

Certo ou não, só Deus dirá

Pois, confiei a ti meu carinho

Mesmo sem te conhecer
Confiei a ti meu sorriso
Mesmo sem o merecer

Foi tudo tão rápido e novo

Com um olhar sagaz e viril
Mesmo eu não estando disposto
Você me veio e sorriu.

A chegada dos pássaros

Os pássaros repousam sobre as árvores
Já ouço o outono chegando
Vejo o céu partir
E folhas no chão tocando
Foi-se todos os males

Tão sublime é esse cantar
Sons rudimentares,
Que aos céus consegue tocar
Inspirando os homens a volta
Lágrimas que o coração solta
E chora sem saber,
Apenas querendo chorar

Envolva-se,
Deixe a esperança te abraçar
Há momentos que a noite é calma e fria,
Sinta a esperança no olhar
Sinta o pouco da chuva que cai,
Curando tudo que de ti não sai

É a vida chamando
São os pássaros cantando
Na proeza que beira
Na centelha alheia

Transforme-se no colidir dos astros
Plante o que te faz bem
Colha o que te convém
Seja a explosão, mas seja suave
Não deixe que esse momento passe
Crie laços

Se te emocionas com o meu ninar
É porque tu buscas transformação
E eu busco a ti
Busco que sonhemos juntos,
No seio dessa canção
E que seja assim.




quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Momentos: olhares e sorrisos

     Sem pressa, eu só queria poder sentar naquela areia em frente ao mar. Eu costumava fazer muito isso. Queria sentir aquele sol em meus olhos queimando, e mesmo assim não me incomodar. A brisa forte em meu rosto refrescando qualquer calor que eu pudesse sentir. A água logo em frente, bastava apenas poucos passos parar mergulhar naquele mar azul. Sinto muita falta disso, porque naquela época eu tinha alguém com quem dividir toda essa paisagem. E quando o sol estivesse se pondo, nós iríamos aproveitar o resto do dia juntos. Hoje, sinceramente, não sinto falta dela e nem de ninguém. Apenas sinto falta de sentir. 
     Já me disseram essa frase, e hoje ela faz muito sentido. Talvez, pensando bem, eu até sinta. Sinto vontade de ter certas pessoas sempre ao meu lado. Consequentemente, sinto medo de no amanhã perdê-las. Mas isso já aconteceu tanto em minha vida que já estou acostumado. Eu até brinco comigo mesmo diante dessa situação. É tão fácil alguém me amar e admirar, porém é mais fácil ainda desse alguém me esquecer. E faço disso algo positivo, porque no dia que um relacionamento realmente se concretizar e criar raízes em minha vida, eu saberei a veracidade da mesma, e que ali reside um sentimento sincero.
     Eu confirmo que, em partes, é minha culpa. Eu sempre fui tão sem pressa, porém ansioso. Um tanto antagônico, mas não é. É apenas uma relação entre a paciência e a curiosidade sobre o que aquela espera irá me proporcionar. Então, o meu anseio é de que tudo seja natural. Eu quero sentir segurança para olhar nos olhos e sorrir de forma espontânea. Isso tem sido muito difícil em minha vida, mas por incrível que pareça, há pessoas que fazem isso com uma facilidade que até me dá medo. E é por isso que a cada dia mais eu tenho tentado amadurecer meus pensamentos, e tentado eliminar minhas conjecturas que vivem a me prejudicar, para que eu não cometa com essas pessoas os mesmos erros que eu já cometi.
     Sempre quando penso que em minha vida algo vai dar errado, eu percebo que o único erro é esse meu pensamento. Agora dá pra entender o porquê de eu ser tão otimista, e não ter tanta pressa em conquistar alguma coisa, porque eu sei que tudo tem seu tempo e virá no momento certo. Vivo minha vida, tento entender tudo que se passa na minha frente. Se não consigo hoje, conseguirei amanhã. Eu filtro o que é primordial para o meu presente, e sei que as minhas escolhas afetarão o meu futuro. E se estou com dúvida no que fazer, apenas olho para o meu passado, e lá encontrarei a resposta.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sem promessas

- Você me faz um juramento, é algo que eu preciso muito?
- Não sei se eu deveria, talvez seja algo pesado demais para carregar.
- E se for, qual seria o problema? Na vida devemos ser aptos a cometer sacrifícios.
- Certo, você realmente é o tipo de pessoa ao qual eu estou sempre disposto a me sacrificar.
- Isso é recíproco, já que estou pedindo uma coisa que eu só pediria pra você, e só.
- Eu sinto isso, não se preocupe. Diga-me, então, qual é o juramento?
- Você jura que nunca irá me fazer promessas, você jura?


Muitas promessas foram feitas, muitas foram cumpridas, outras não. Hoje eu sei que não vivo de promessas, não vivo com um talvez. Quando há honestidade, não precisamos enaltecer a segurança alheia com falsos positivismos. Faça-o aceitar a ideia de frustração, e entender que isso não lhe fará tanta diferença no final das contas.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Dentro do meu quarto

     Dentro do meu quarto a luz não há mais, o retrato velho já não me satisfaz, o guarda-roupa não guarda o que peço, quando olho para cima não vejo o teto. A poeira ainda reside, tento varrer mas ela insiste. A única forma foi aprender a conviver com ela, aprender a conviver com o que não me faz bem. Pois não adianta tentar reorganizar agora, se logo a bagunça vem.  Então, não luto com essa desordem, apenas deixo que me moldem, finjo e rio desse sistema que insiste em me fatigar. Por dentro do meu quarto tudo está colorido, pois não há uma ordem, nada faz sentido. As roupas estão jogadas no chão, os sapatos ficam pendurados, as meias encima da televisão, os quadros tortos quando na parede pregados. Meus instrumentos ficam encapados para fugir da sujeira, aos menos nisso eu sou cuidadoso, prevenindo o prejuízo de certa maneira. As paredes já se acostumaram com o mofo, mesmo não sendo em tempos de chuva. Já pintei-as várias vezes, mas o clima não muda. Conviver nesse contraste de representações me consome, busco forças quando estou esgotado. E quando me rendo ao cansaço, em minha cama eu me deito, durmo e acordo apenas no outro dia. E sempre que acordo, olho ao redor e percebo que tudo aqui merece o meu apreço. Se meu quarto está bagunçado, é tudo a minha culpa. Nada justifica os motivos de minha insulta. Hoje, eu posso acabar com esse desprezo. Não é plausível destratar quem me acolhe desse jeito. 

- E ai, vamos arrumar essa bagunça?

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Quarto lampejo

     As mulheres se interessam por dois tipos de homem: aqueles que têm uma boa visão na sociedade, os bem vistos. E aqueles que têm uma boa visão da sociedade, os que vêem bem.  Esse é o contraste entre status social e conhecimento social, entre ser o humano e ser humano.

Crença desnecessária

     É difícil a compreensão quando se tem a visão turva, oscilando entre o necessário e abstrato. Por ser repleto de idealizações, que compelem os interesses através de outros olhares, nascendo a concepção do prisioneiro. Enquadrado, sem saída, esse prisioneiro não tem muitas alternativas a não ser pensar, criar hipóteses, viver de suposições. Reafirmando assim a sua ignorância. Aquele que não conhece os fatos, não é presenteado com a verdade, teima em querer justificar certos comportamentos com palavras. Palavras essas que de certo modo o satisfaz naquele momento. É a necessidade que ele tem, junto a uma solução momentânea.
     Conviver com incertezas é um estorvo deturbante em nossos pensamentos. Admiro aqueles que desmistificam todas essas incoerências corroboradas pela credulidade cega. Amortecer uma queda no vazio, enxergar quando não se há luz, voar quando não se há chão. Fazer as coisas parecerem simples quando na verdade já são. Querer mudar o que não precisa ou não pode, e proceder no fascínio dos milagres. As possibilidades são mútuas, coexistem, mesmo parecendo ilógico. Esse processo de acordar e perceber que estávamos presos, com um vórtex contundente em nossas percepções, é benigno por nos livrar de toda atmosfera sombria causada pelos achismos.
     Então, se você já que sabe que certos pensamentos lhe atormentam, por que pensá-los? Apenas encontre uma maneira de fazer esse seu problema, causado pelas incertezas, parecer menor do que você. Ninguém precisa chorar, nem sofrer. Há um mundo lá fora, e esse mundo sempre lhe acolherá. Sempre existirá um sorriso que lhe alegrará. E eu sempre estarei aqui para não te deixar falhar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Apenas mais um dia

Mais uma temporada se aproxima
E nada melhor de que uma rima
Para expressar o que vai acontecer

O céu irá ceder entre raios que surgem
Uma claridade aos poucos irá aparecer
Cobrindo as estrelas que aqui habitam
Fugindo da manhã de sol que irá nascer

Não há frio,
Não há dor,
Apenas conforto,
E amor.
Não há roseira,
Não há rosa,
Apenas conforto,
E a prosa.

O dia amanhece, e eu acordo com ele
E que venha o amor,  e que eu deseje
Estarei sentado na cadeira a observar
Os raios se pondo e nossa tarde chegar

Mais um dia se aproxima
E você vem junto a ele
E nada como uma rima
Para eu poder te dizer:

Não há dia, 
Não há calor,
Apenas conforto,
Apenas amor.
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