quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Displicência

     Aqueles jovens arregaçaram os pulsos, reforçaram o colarinho, e vestiram seus óculos escuros. Estão apossados pelo calor da noite, sentindo-se imunes a qualquer projétil que os possam atingir. No ar elevado, pra cima, olhares fixos na estrada, eles seguem firmes seus caminhos. Por onde passam, os seus estigmas tomam conta, a arrogância, a indiferença. Mas naquela noite tudo mudaria.
     Os jovens adentram na lanchonete tomando os olhares de todos ali presentes. Os moradores da pacata cidade, que estavam jantando na tal lanchonete, já sabiam da fama dos garotos: problema. Só não sabiam que aqueles jovens, que se vestiam de casacos pretos, calças rasgadas, e camisas com linguagem pejorativa e imagens agressivas, eram apenas jovens que buscavam algo que desconheciam. Esses jovens sentiam um vazio no peito, e a rebeldia era uma forma de exaltar as atenções e preencher esse espaço de forma paliativa.
     Após sentarem-se a mesa, eles pedem cerveja para beber e algumas porções de fritas. A noite parecia ser a farra de sempre, mas seria subversiva. Um dos membros recebe uma ligação:
- Eu falo com Daniel?
- Sim, quem está falando?
- Aqui é da Polícia, Daniel, e sinto-lhe em informar que sua mãe veio a falecer - na visão de Daniel o mundo pareceu parar por alguns segundos, não conseguia e não queria acreditar no que tinha acabado de ouvir. Por mais que ele quisesse acreditar que fosse brincadeira, ele sabia que aquela voz era do Sargento Sarmento, que nunca ousaria em fazer tal afirmação para fins jocosos. Então não houve subterfúgios, aquele jovem que parecia independente e durão, que enfrentava e amedrontava a todos, tinha uma fraqueza, e essa fraqueza emergiu. Não importa o que ele era para os outros, aos olhos de sua mãe ele sempre seria um menino. E realmente era, ele percebeu naquele momento. Enquanto seus amigos conversavam, badernavam, ele apenas pusera sua mãe em sua testa, pelo nervosismo e tensão do momento, e começou a lacrimejar. - Daniel...?
- Ainda estou aqui...
- Voc...
- Diga-me, o que aconteceu? - interrompe ao policial.
- Não sabemos muito. Segundo seu irmão, um homem entrou em sua casa gritando pelo seu nome. Sua mãe foi verificar o que e quem era. Ao chegar em seu quarto, sua mãe perguntou ao homem o que ele queria e ele dissera que você tinha algo que o pertencia.
- E o que ele procurava? - perguntou exaltado, já sabendo que essa história podia piorar, ainda mais.
- Calma, chegaremos lá. Em seguida sua mãe pediu ao homem que se retirasse de casa, e ameaçou ligar para a polícia caso ele não saísse. O individuo parecia confuso, agressivo, fora de si, negava-se a escuta-la. Ao pegar o telefone, o homem perturbado, ao desespero, atirou em sua mãe. Quando chegamos ao local ela ainda estava viva, porém muita fragilizada, havia perdido muito sangue. E infelizmente ela veio a falecer a caminho do hospital.
- E quanto ao assassino, você ao menos o pegaram? - pergunta Daniel, após uma pausa tentando assimilar o que tinha acontecido, pois tudo que lhe restava era o ódio pelo assassino.
- Sinto-lhe em dizer que não. Fugiu assim que percebeu a besteira que tinha feito.
- Nenhuma suspeita de quem tenha feito isso? - começando a enaltecer o tom de voz, já possuído pela angustia e incompreensão.
- Não. - o sargento viu agora uma maneira de entrar em um assunto pertinente - Mas, ora, Daniel, diga-me você. Segundo seu irmão, o tal indivíduo disse que você roubara algo dele. E por acaso, encontramos uma grande quantidade de entorpecentes, que com toda a certeza, não era para seu uso pessoal. - acrescenta astutamente.
- Mas isso é uma mentira, nada disso me pertence! - Daniel agora a falar em tom alto, fazendo com que todos ao seu redor parassem suas conversações e o olhassem.
- A cidade é pequena, Daniel. Eu sei muito bem o que você costuma aprontar por aí. Mas hoje sua brincadeira acabou, você conhecerá uma outra realidade. Segundo informações, eu sei que você está na lanchonete no centro da cidade, e sei também que você não irá resistir as viaturas que logo chegarão aí. Certo, Daniel?
- ...
- Daniel?

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