sexta-feira, 30 de agosto de 2013

À meia-noite

     Uma jovem lilás no horizonte, a flor bela, prisioneira vestindo uma cruz de cor amarela, ofegante, debruçada sobre o delírio do cais, de uma tristeza sem fim aos gritos terminais, mas consente e sente-se doente, as mágoas profundas presentes, ela corre, para, pensa e pula. Então acorda, grita e logo sussurra:
- Mais bela, sagaz e felina, no partir da manhã à uma tarde em neblina, tudo foi apenas um sonho ou um triste pesadelo?

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Quando tudo começar

Olhe em meus olhos
Respire, jogue tudo fora
Não que agora seja hora
Mas é hora de se libertar
De tudo que está aí guardado
A sete chaves, lacrado
Em seu sorrir decente
De uma paixão recente
Que me espera acordar
Então me acordo cansado
De sempre olhar ao lado
E não conseguir te enxergar
Você, distante e passageira
Dos meus sonhos, a primeira
Que seja mais aparente
Apareça assim de repente
Com um susto certeiro
Expurgando meu devaneio
Acolhendo nossos laços
Recordando os velhos passos
Escrevendo um novo texto
Recitando uma poesia
Ao seu lado, quem diria?
Pois há quem diga que será assim.

Apenas observe

     Há um determinado momento em nossas vidas, aparentemente estreito, rodeado entre luzes e sombras, poucas cores, que nossos pensamentos fogem e se escondem em profundezas, não de conotação obscura, mas sim de distante e isolada, intangíveis, inimagináveis, aprisionadas em uma vibração densa, habitada pela sensação de fracasso, mas não o fracasso atingido pelas decepções alheias, e sim um fracasso de observar os outros fracassarem por tentar, e apenas observar, nada mais.

domingo, 18 de agosto de 2013

Amanhã, quem sabe?

Até hoje eu espero
Sentado na varanda
Ao pôr-do-sol
Meus dias voltarem ao normal
Em algum dia, que tal?
Eu hei de arrumar as malas
E não mais esperar
Correr atrás, reencontrar
Escalar montanhas
Fazer poses estranhas
Acender fogueiras
Montar barracas
Me aventurar, sair por aí
Algum dia eu sei que sim
Mas enquanto isso
Assim como eu dizia
Permaneço sentado
No meu canto calado
Admirando o retrato
De tudo aquilo que quero
E não posso ter.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

#Diário de Klauss - Meu primeiro diário (III)

     Talvez seja por esse motivo que a Triangular nunca tenha tido nenhuma ambição em expandir seu território. Todas expedições, em sua grande maioria, são com barcos aéreos, com rumo às ilhas flutuantes, porque são lugares quase que isentos de criaturas selvagens, e pra que não tenha dúvidas sobre a capacidade intelectual das tais criaturas diante da categorização de "selvagens", eu generalizo como "criaturas cruéis", no mais, pode ser ignorância nossa, nos afastamos do mundo a fora. Cristalizamo-nos em nossas barreiras, e resolvemos, visando nosso bem, isolar o mundo ou nos isolar, depende do ponto de vista. Pois nós sabemos de civilizações, aos arredores, que não se desenvolveram tão bem, que são necessitadas de um afago fraterno, mas nada de nós partirá. Não por segregação nossa, mas há um contexto histórico que nos afasta. Vale-se lembrar que a Triangular é formada por três sociedades distintas, pensamentos distintos, mas que almejam o mesmo destino. E quando temos pessoas diferentes, partindo de uma origem ao mesmo destino, os caminhos serão diferentes. Agora imagine se eles decidirem caminhar juntos. Isso será um problema. Enfim, a sociedade. Pensamentos que afloram a todo momento, em busca do bem comum, retrato agora o conflito interno de nossos governantes. Eu estive lá, mesmo que por pouco tempo, sei do que estou dizendo. Acredito muito na pureza de pensamento da grande maioria que forma a cúpula central. Mas envolta desses membros, por meio da afinidade, acredita-se ter outras mentes, outras vontades. Imaginar essa teia tecida, entre nossos governantes a nossos irmãos em comum, é trabalho árduo, diria até que tão pouco compensador. Tudo que eu espero, e que com fé eu vejo, são sempre decisões firmes e concretas, pensadas para o bem de todos. Por mais tantos, ao logo dos sete mil anos conhecidos de nossa história, ainda não chegamos a plenitude, então quem somos nós para levar a plenitude a nossos irmãos perturbados? Tudo que nos resta, é fazer algumas expedições, de caráter diverso, para aos poucos moldar nossa integridade ao lado de nossos irmãos, ainda então, divergentes a nossos caminhos. Em relação as expedições terrestres, eu tenho capacidade de dizer que desde meu ingresso no quadro militar até os dias em que escrevo esse diário, foram poucas tentativas, mas com sucesso, ouso a dizer. Porém, muitas mortes também. O mundo fora das fronteiras é um mundo cruel, indiferente, impiedoso. Além de ser desconhecido, por motivos evidentes, também é muito grande, foge de nossos controles. Mas por um lado isso trouxe algo de positivo: o medo nos fez reconhecer de que não precisamos daquilo que está fora de nossos alcances. Sobrevivemos tão bem com o que temos, o que a terra nos dá, é o bastante. Claro que muitos problemas arquiteturais, de engenharias,  de logísticas e científicos precisaram ser resolvidos para que conseguíssemos sobreviver e viver com o que muitos consideram pouco, e hoje entendemos que é o suficiente e se faz eficiente. Mas esse discernimento, aprendizado, conhecimento e desejo de ser um bom habitante e conterrâneo (até mesmo para aqueles que nos consideram inimigos) não surgiu de repente, houve muitos estudos, os quais nunca cessaram, e acredito que nunca cessarão. Pois buscar melhorias sempre será de bom grado, mas só a partir do momento em que essa busca seja o melhor para nós. Eu já nasci nesse mundo com muitas idéias difundidas, isso que falo já tem seus séculos. Temos grandes historiadores que descrevem cada passo no invento de maquinas, nos estudos da alquimia e suas descobertas, na capacidade do poder da mente (telecinésia por exemplo), as faculdades intelectuais, físicas e espirituais, a arte do ocultismo, entre tantas outras. Há um arsenal, só que de livros, que ditam o comportamento e procedimentos a serem tomados pela sociedade, e nosso governantes são ortodoxos, respeitam às escrituras. Mas não obrigam ninguém a respeitá-las. É muito simples de se entender o porquê: se não segues ou não consegues seguir as regras de nossa sociedade, dela não precisarás (entenda como "não poderás") fazer parte, pois não é justo usufruir de tais ganhos coletivos enquanto te colocas como um ser individual. Mas é sempre bom entender que um ser ortodoxo está sempre aberto a mudanças, e que o respeito às escrituras pode ser o respeito ao que ele próprio escreveu, pois somos um sociedade bem flexível, sempre buscando o bem de cada um, pois só assim alcança-se o bem coletivo, e o que eu tinha dito anteriormente "os estudos nunca cessarão" aplica-se bem nesse contexto, a nossa forma de pensar e agir estão em constantes mudanças, nossas escrituras também. Aos que negam seguir as regras, são retirados da sociedade, mas se houver qualquer indício de resistência ou de ameaça, são submetidos ao isolamento.
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