segunda-feira, 12 de agosto de 2013

#Diário de Klauss - Meu primeiro diário (III)

     Talvez seja por esse motivo que a Triangular nunca tenha tido nenhuma ambição em expandir seu território. Todas expedições, em sua grande maioria, são com barcos aéreos, com rumo às ilhas flutuantes, porque são lugares quase que isentos de criaturas selvagens, e pra que não tenha dúvidas sobre a capacidade intelectual das tais criaturas diante da categorização de "selvagens", eu generalizo como "criaturas cruéis", no mais, pode ser ignorância nossa, nos afastamos do mundo a fora. Cristalizamo-nos em nossas barreiras, e resolvemos, visando nosso bem, isolar o mundo ou nos isolar, depende do ponto de vista. Pois nós sabemos de civilizações, aos arredores, que não se desenvolveram tão bem, que são necessitadas de um afago fraterno, mas nada de nós partirá. Não por segregação nossa, mas há um contexto histórico que nos afasta. Vale-se lembrar que a Triangular é formada por três sociedades distintas, pensamentos distintos, mas que almejam o mesmo destino. E quando temos pessoas diferentes, partindo de uma origem ao mesmo destino, os caminhos serão diferentes. Agora imagine se eles decidirem caminhar juntos. Isso será um problema. Enfim, a sociedade. Pensamentos que afloram a todo momento, em busca do bem comum, retrato agora o conflito interno de nossos governantes. Eu estive lá, mesmo que por pouco tempo, sei do que estou dizendo. Acredito muito na pureza de pensamento da grande maioria que forma a cúpula central. Mas envolta desses membros, por meio da afinidade, acredita-se ter outras mentes, outras vontades. Imaginar essa teia tecida, entre nossos governantes a nossos irmãos em comum, é trabalho árduo, diria até que tão pouco compensador. Tudo que eu espero, e que com fé eu vejo, são sempre decisões firmes e concretas, pensadas para o bem de todos. Por mais tantos, ao logo dos sete mil anos conhecidos de nossa história, ainda não chegamos a plenitude, então quem somos nós para levar a plenitude a nossos irmãos perturbados? Tudo que nos resta, é fazer algumas expedições, de caráter diverso, para aos poucos moldar nossa integridade ao lado de nossos irmãos, ainda então, divergentes a nossos caminhos. Em relação as expedições terrestres, eu tenho capacidade de dizer que desde meu ingresso no quadro militar até os dias em que escrevo esse diário, foram poucas tentativas, mas com sucesso, ouso a dizer. Porém, muitas mortes também. O mundo fora das fronteiras é um mundo cruel, indiferente, impiedoso. Além de ser desconhecido, por motivos evidentes, também é muito grande, foge de nossos controles. Mas por um lado isso trouxe algo de positivo: o medo nos fez reconhecer de que não precisamos daquilo que está fora de nossos alcances. Sobrevivemos tão bem com o que temos, o que a terra nos dá, é o bastante. Claro que muitos problemas arquiteturais, de engenharias,  de logísticas e científicos precisaram ser resolvidos para que conseguíssemos sobreviver e viver com o que muitos consideram pouco, e hoje entendemos que é o suficiente e se faz eficiente. Mas esse discernimento, aprendizado, conhecimento e desejo de ser um bom habitante e conterrâneo (até mesmo para aqueles que nos consideram inimigos) não surgiu de repente, houve muitos estudos, os quais nunca cessaram, e acredito que nunca cessarão. Pois buscar melhorias sempre será de bom grado, mas só a partir do momento em que essa busca seja o melhor para nós. Eu já nasci nesse mundo com muitas idéias difundidas, isso que falo já tem seus séculos. Temos grandes historiadores que descrevem cada passo no invento de maquinas, nos estudos da alquimia e suas descobertas, na capacidade do poder da mente (telecinésia por exemplo), as faculdades intelectuais, físicas e espirituais, a arte do ocultismo, entre tantas outras. Há um arsenal, só que de livros, que ditam o comportamento e procedimentos a serem tomados pela sociedade, e nosso governantes são ortodoxos, respeitam às escrituras. Mas não obrigam ninguém a respeitá-las. É muito simples de se entender o porquê: se não segues ou não consegues seguir as regras de nossa sociedade, dela não precisarás (entenda como "não poderás") fazer parte, pois não é justo usufruir de tais ganhos coletivos enquanto te colocas como um ser individual. Mas é sempre bom entender que um ser ortodoxo está sempre aberto a mudanças, e que o respeito às escrituras pode ser o respeito ao que ele próprio escreveu, pois somos um sociedade bem flexível, sempre buscando o bem de cada um, pois só assim alcança-se o bem coletivo, e o que eu tinha dito anteriormente "os estudos nunca cessarão" aplica-se bem nesse contexto, a nossa forma de pensar e agir estão em constantes mudanças, nossas escrituras também. Aos que negam seguir as regras, são retirados da sociedade, mas se houver qualquer indício de resistência ou de ameaça, são submetidos ao isolamento.

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