segunda-feira, 29 de julho de 2013

#Diário de Klauss - Meu primeiro diário (II)

     Eu me lembro que morávamos em um vilarejo de pilhas encadeadas, que são vários prédios ligados um ao lado do outro, em formato de U. Com uma grande varanda que ligava todas as casas, como era comum em vilarejos mais humildes. A visão dessa varanda era contemplada com uma praça, um grande espaço vazio em areia onde crianças corriam, uma fonte até que grande e tendas que formavam uma pequena feira. Tudo muito simples, construído para os trabalhadores das redondezas do rio Brosch pelo Imperador Tzu. Brosch também era o nome do vilarejo, ficava entre Notakker e Ratignar Hauss, ou seja, em uma zona neutra. Não pertencia à Triangular, mas recebíamos proteção e alguns serviços por força de trabalho em troca. Brosch era grande, tinha muitos campos de colheitas, principalmente de arroz, algumas mineradoras, criação de animais, extração de essências e ervas, e um pequeno centro de treinamento militar formado pelos próprios camponeses hábeis de uma divisão ordinária. Também nos foi fornecido o centro de cura e espiritualidade, a Sentinela e o Caldeirão que é um grande restaurante. Isso tudo majoritariamente fornecido pelo Império de Notakker, que também era o que mais se aproveitava dos recursos. Devido o grande crescimento de Brosch, foi formado um time de inspetores, constituído por membros do comitê social da Triangular e alguns camponeses eleitos, onde suas funções eram meramente simbólicas, apenas para manter a ordem e verificar a lealdade de alguns. Então já deu pra perceber que Brosch nasceu com aquele encadeado em U, e com o tempo, fazendas foram sendo construídas ao seu redor, entre alguns outros prédios de portes pequenos.
     Mas dando continuidade ao acontecido, minha mãe já esperava ser chamada, as produções e colheitas de Brosch andavam em baixa devido a época, e Mardora estava em grande safra, e também era uma das maiores de toda Triangular, sofria constantes ataques, por isso era recrutado gente de todos os lugares, tanto coletores quanto militares de divisão ordinária. Para os militares, essa época era conhecida como noite do desespero, porque haviam muitos ataques noturnos, a vida era um preço a ser pago para que as produções em Mardora continuassem. Isso tudo se dava ao fato de Mardora se encontrar ao lado da Ruína do Desespero, lugar repleto de bárbaros, canibais e espécimes noturnas, alguns deles conhecidos como olhos azuis, cuja a origem do nome reflete a única coisa que se vê quando eles estão perambulando pelos bosques à noite, seus olhos azuis claros de brilho intenso. Mas os ataques à Mardora mais recorrentes vinham dos bárbaros e de alguns saqueadores que vagueavam por ali.
     Estava chegando o entardecer, minha mãe acabara de arrumar todas as malas. Ela ainda precisava telecomunicar a meu tio da minha chegada. Mas você deve estar se perguntando: por que sua mãe não resolveu fugir? Por que tem que ceder tão facilmente? A resposta é muito simples: nós morreríamos. E não, nenhum soldado da Triangular faria esse trabalho, pois são seres éticos, disciplinados e com amor ao próximo, porém eles sabem que para a evolução de uma sociedade, de maneira justa, todos têm que contribuir, e infelizmente alguns têm que ceder alguns privilégios, largar algumas mordomias para que haja um crescimento, não individual, mas sim social. Eles não enxergaram minha mãe como um todo, e sim como uma célula integrante de todo um sistema. Uma ideia muito difundida entre os governantes da Triangular é que não existe um trabalho melhor, ou um cargo maior, que o outro. Todos têm a mesma importância, apenas se encontram em espectros diferentes. Um rei da Triangular não se percebe superior à ninguém, sabe que seu propósito ao nascer foi de ser preparado para o governo, e que dependendo da perspectiva em que olhamos: ou ele é quem ajuda, ou ele que é ajudado. Ou as pessoas que o serve, ou ele que serve às pessoas. E minha mãe, em plena consciência de suas obrigações como uma Viduabel, viúva de um militar, deveria aceitar sem resistência. E não ficando claro a parte de que nós morreríamos, eu explico com uma frase muito conhecida entre os triangulares "Não há vida fora de nossas fronteiras". Realmente não há. Muitos selvagens vagueiam a própria região da Triangular, e é difícil de contê-los devido ao vasto continente. Agora imagine o que encontraríamos nas mais irrisórias profundezas do sul.

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