domingo, 7 de dezembro de 2014

Definindo saudades

     Nem tudo é você. A maré que seca no amanhecer não é você; o céu estrelado após um dia de trabalho, descansando ao relento no orvalho, não é você; a água da chuva que bate em meus cabelos, escorrega pelo meu rosto, deixa-me de molho, escaldado feito bobo, não é você; o sol que me aquece, tão quente que a chaleira até ferve, esquentando a pele feito febre, não é você; o vento que bate a minha janela, fazendo o barulho ensurdecedor, zumbido que causa até pavor e incomoda quem está ao lado dela, não é você; a música que toca ao meu lado, ás vezes no rádio, às vezes no computador, ou seja lá onde for, não é você.
     Realmente, nem tudo é você. Mas sinto que tudo tem você. Pois eu sempre te vejo quando eu me acordo e olho no espelho; quando abro a porta e a sala está vazia, no começo da tarde ou no fim do dia; quando eu fecho os olhos e adormeço, às vezes sonho contigo e às vezes me esqueço; quando me sento na mesa de jantar e estou sozinho, com o coração cheio e o prato vazio; quando escrevo um verso, mesmo que sem nexo, se ele tem você, fica fácil entender.
     Eu me entendo facilmente, só é difícil aceitar. É difícil aceitar que você esteja em todos os lugares, mesmo que eu não possa te tocar. Você bem que poderia se fazer presente, e de presente ser dada a mim, pois assim eu te desembrulharia e te tinha por inteiro. Nada mais de tudo ter você e eu não te ter. Já que nem tudo é você, então que você seja algo para mim, seja um momento condizente com o que vejo e pertinente com o que sinto. Por fim, seja um momento passageiro, mas que passe por mim o tempo inteiro.

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