quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Orgulho

     Você sabe que nada de especial tem nesse lugar. Não tem vela, não tem beijo, não tem luz, nem desejo. Escuro, umedecido, nublado, sem perigo. Não encontro a entrada, mas se entro sei que não tem saída. Intrigante, pois da paz que paira no ar, instaura-se dentro de mim a fervidão, e lá se vai a minha paz. Realmente, nada de especial tem nesse lugar. Não sei se fico ou se corro, talvez eu abrace, mas vai que eu morro. E por falar em morro, eu já subi em vários, cansaram-me o bastante, mas não tanto quanto aqui me cansa. Falta-me ar, até esperança. Encontro a vela, mas me falta fogo. Se tomo ar, cadê meu fôlego? Se deito ao chão, cadê meu abraço? 
     Aqui me falta tudo, até de tudo que me cansa, pois eu gostaria de me cansar com algo diferente que não seja estar aqui. Sinto-me preso feito estaca, como cortar uma cana sem a faca, ou cair de um abismo, assim, de repente. Esse lugar me faz mal, faz de mim alguém diferente, faz-me abrir uma porta inconsequente, dar dois passos a frente, ver um mundo dormente, olhar para trás e querer voltar. Eu não pertenço a esse lugar sombrio, que dos frutos só se colhe discórdia, afasta a luz que se planta lá fora, ensurdece o ser já emudecido, que das palavras diria uma só, seria um adeus bem afogado, das águas pálidas de um riacho que deságua em mim e me molha inteiro. 
    Eu não pertenço a esse lugar, sinto muito. Esse lugar pode até me pertencer, pode até fazer parte de mim, mas eu não pertenço a esse lugar. Esse lugar se chama orgulho, meu leão selvagem e faminto, protetor impotente e desalmado, sem cura, sem coro, apenas covarde. Um lugar dentro de mim já desabitado. Não dou estadia a ninguém nesse lugar. Se nem eu quero em meu orgulho habitar, como a outrem eu poderia permitir?  Esse lugar não tem nada de especial, então por favor, não deixe ninguém em seu orgulho habitar, prefira morrer de fome a um olhar vazio se deparar. Se alguém te machucar, dê mais um chance, vai que mais adiante, em um momento suplente, a alegria não se faz presente? Então, dona Maria, não me venha com seu orgulho!

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