domingo, 27 de julho de 2014

Um velho hábito

     Não é a primeira vez que fico paralisado. Eu a vi subindo a ladeira, na primeira marcha, quase parando. Faltava força, faltava ar, faltava tudo, até mesmo amar. Apenas olhei. Faltou-me coragem, como na primeira vez. Aquela sensação de nervosismo voltou, há muito tempo que não sentia isso. É como relembrar um velho hábito que eu tinha com você ao lado. Eu queria poder te dizer 'oi', mas enquanto não consigo, irei escrevendo tudo aquilo que não digo. Infelizmente não tenho coragem de escrever tudo que sinto, faz-me sentir mais idiota, não querendo escancarar a porta de casa para não ter convidados indesejáveis. Talvez eu perca esse medo, o mesmo medo que é o de te perder, mesmo tendo te perdido há muito tempo. Talvez você não saiba, mas através da minha janela eu consigo te ver. Eu sei que aquela luz no fim do mundo é o da sua casa, essa luz mantém o que eu achava estar morto há muito tempo, mas, para minha surpresa, estava apenas adormecido. E agora eu não sei se é um sonho ou um pesadelo que eu estou prestes a ter essa noite. Não quero mais a assombração da sua ausência. Eu quero seu aroma, e o frio na barriga que sua voz me trás. Queria poder trazer frases novas paras meu textos, não mais meus velhos hábitos falhos. Queria uma roupa nova e um fim de tarde. Apenas acordar no anoitecer e caminhar na praia. Mas tudo está parecendo tão incompleto. Talvez agora eu saiba porque eu dou tantos 'nãos', talvez eu ainda guarde o seu 'sim'. O 'sim' de 'eu te quero', o 'sim' de 'você me faz falta'. Porém isso tudo pode ser que seja apenas a brasa quente ou uma faísca: uma lampeja e logo vai embora, a outra só apaga quando amanhece, pois já tem a luz do sol para iluminar o dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Creative Commons License
Klauss Diary by Gabriel Barbosa is licensed under a Creative Commons Attribution-NoDerivs 3.0 Unported License.