Cá estou eu mais uma vez, sentado em meu lugar de costume de minha cafeteria preferida. Hoje, pensara eu, nada iria ser diferente, apenas tomaria meu café e logo partiria para mais um dia de trabalho. Mas acabo de me deparar com uma velha amiga. Ela parece triste, e de alguma forma eu me vejo na obrigação de acudir essa pessoa. É bem provável que ela não saiba meu nome, pois também não sei o dela. Quando disse "velha amiga" apenas me referi aquele sentimento de afetividade que me surgiu. É uma ligação forte, de origem não revelada, que me faz destemido e deixa a minha timidez de lado, a ponto de ir falar com ela. Levanto-me um pouco apreensivo, confesso. Mas caminho a passos largos em sua direção, para não fomentar minhas inseguranças. Vejo-me próximo, seu perfume já domina qualquer pensamento frágil que venha a me interceder. De forma sucinta eu a toco no ombro. Ela vira o rosto de maneira assustada, mas logo em seguida abre um sorriso tímido e de maneira bem educada me pergunta:
- Posso lhe ajudar?
Começo a ficar em prantos, mas não a deixo perceber. Nunca foi de minha pessoa abordar um desconhecido sem motivo específico. Não tenho nenhuma experiência em tal situação, não sou desses galanteadores. E a única pergunta que me veio a cabeça foi:
- Você gosta de queijo? - digo de maneira destrambelhada.
Nossa que gênio! Sério, foi a única coisa que me veio a cabeça. Agora vejo que acabei com todas a minhas chances de iniciar um diálogo e de conhecê-la melhor. Agora ela está com uma expressão em seu rosto de quem se encontra sem jeito. Porém ela continua a sorrir, e de maneira mais solta dessa vez. E para minha surpresa ela me responde:
- Gosto sim. Por acaso você tem algo para me recomendar?
Pela resposta, percebo que ela é diferente. Se fosse qualquer outra mulher, teria feito algo para que eu me sentisse constrangido e me retirasse. Sinto-me mais seguro agora, e a respondo:
- Damasco com pasta de queijo Sírio é o meu favorito, você já experimentou?
- Para falar a verdade, não. Acho que vou considerar a sua recomendação.
- Não irá se arrepender, garanto! Mas, antes de qualquer coisa, preciso lhe confessar que estou me sentindo um idiota.
- Por que você diz isso?
- De alguma maneira, eu só queria me aproximar de você. E acredite, a única coisa que me veio a cabeça foi essa pergunta tola.
- Não se preocupe - ela fala sorrindo - tola seria eu se não percebesse sua mão trêmula ao tocar meu ombro, e sua expressão receosa ao me perguntar. Logo percebi o seu gesto digno de alguém que está apenas sendo corajoso, e tomando iniciativas sinceras das quais eu admiro muito. Então, se queres tanto me conhecer melhor, por favor, sente-se. De uma companhia, é tudo que eu preciso hoje.
Será válido deixar as incertezas da vida reprimirem nossas vontades? Hoje eu tive a prova que não. E também aprendi: coisas que parecem bobas, muitas vezes carregam um mundo dentro de si.
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