sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Velha amiga

     Cá estou eu mais uma vez, sentado em meu lugar de costume de minha cafeteria preferida. Hoje, pensara eu, nada iria ser diferente, apenas tomaria meu café e logo partiria para mais um dia de trabalho. Mas acabo de me deparar com uma velha amiga. Ela parece triste, e de alguma forma eu me vejo na obrigação de acudir essa pessoa. É bem provável que ela não saiba meu nome, pois também não sei o dela. Quando disse "velha amiga" apenas me referi aquele sentimento de afetividade que me surgiu. É uma ligação forte, de origem não revelada, que me faz destemido e deixa a minha timidez de lado, a ponto de ir falar com ela. Levanto-me um pouco apreensivo, confesso. Mas caminho a passos largos em sua direção, para não fomentar minhas inseguranças. Vejo-me próximo, seu perfume já domina qualquer pensamento frágil que venha a me interceder. De forma sucinta eu a toco no ombro. Ela vira o rosto de maneira assustada, mas logo em seguida abre um sorriso tímido e de maneira bem educada me pergunta:
- Posso lhe ajudar?
Começo a ficar em prantos, mas não a deixo perceber. Nunca foi de minha pessoa abordar um desconhecido sem motivo específico. Não tenho nenhuma experiência em tal situação, não sou desses galanteadores. E a única pergunta que me veio a cabeça foi:
- Você gosta de queijo? - digo de maneira destrambelhada.
Nossa que gênio! Sério, foi a única coisa que me veio a cabeça. Agora vejo que acabei com todas a minhas chances de iniciar um diálogo e de conhecê-la melhor. Agora ela está com uma expressão em seu rosto de quem se encontra sem jeito. Porém ela continua a sorrir, e de maneira mais solta dessa vez. E para minha surpresa ela me responde:
- Gosto sim. Por acaso você tem algo para me recomendar?
Pela resposta, percebo que ela é diferente. Se fosse qualquer outra mulher, teria feito algo para que eu me sentisse constrangido e me retirasse. Sinto-me mais seguro agora, e a respondo:
- Damasco com pasta de queijo Sírio é o meu favorito, você já experimentou?
- Para falar a verdade, não. Acho que vou considerar a sua recomendação.
- Não irá se arrepender, garanto! Mas, antes de qualquer coisa, preciso lhe confessar que estou me sentindo um idiota.
- Por que você diz isso?
- De alguma maneira, eu só queria me aproximar de você. E acredite, a única coisa que me veio a cabeça foi essa pergunta tola.
- Não se preocupe - ela fala sorrindo - tola seria eu se não percebesse sua mão trêmula ao tocar meu ombro, e sua expressão receosa ao me perguntar. Logo percebi o seu gesto digno de alguém que está apenas sendo corajoso, e tomando iniciativas sinceras das quais eu admiro muito. Então, se queres tanto me conhecer melhor, por favor, sente-se. De uma companhia, é tudo que eu preciso hoje.

Será válido deixar as incertezas da vida reprimirem nossas vontades? Hoje eu tive a prova que não. E também aprendi: coisas que parecem bobas, muitas vezes carregam um mundo dentro de si.

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